sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Respostas




Procurava por respostas e então consultei os monges. Descobri então a nobreza da virtude. Mas não aprendi como elevar-me acima da vida mundana. Sequer consegui livrar-me de alguns pequenos vícios, em mim impregnados como uma segunda pele. Forcei arrependimento, convencido que estava pelas palavras puras, e travei luta interna contra os pecados do corpo, da mente e da alma. Depois de um começo promissor, acabei de novo caindo em tentação. Ouvi: és um humano miserável, fraco e sem vontade.

Busquei então a companhia dos intelectuais, humanos como eu, mas donos de um pensamento sofisticado e símbolos da grandeza da raça. As palavras certas, no lugar certo poderiam inspirar-me e operar o milagre do renascimento. Mas tantas verdades ditas sem pudor quase me ferem de morte... Espantado, fugi, protegido justamente por minha humanidade falível e inconseqüente. Melhor não pensar, inferi, e de novo voltei às antigas perguntas.

Insatisfeito e melancólico, tive então a necessidade de proteção. Busquei-a nos poucos amigos, nos braços de gente próxima. Recebi carinho, recebi atenção. Mas quando abri meu coração por completo senti o diálogo se tornar um monólogo. Os braços que me envolviam se afastaram e, tal qual objeto decorativo, exemplo vivo de desgraça por ninguém desejada, colocado fui a um canto. E dos outros me tornei deplorável criatura, exemplo do que não ser. “Pare com isso!”, foram as últimas palavras que escutei antes de dar as costas e de novo partir.

Cansado, atordoado, fechei-me em pensamentos e chorei sozinho. O espelho se tornou ameaçador e insuportável. A alegria das crianças, o vôo dos pássaros, o caminhar distraído das moças, o zunir do vento nas árvores, o azul do céu, o marulhar das ondas, o balé dos peixes, o som das mais belas canções – nada me consolava.

Perdido fiquei a olhar o mundo pela janela. E não compreendia o sentido daquilo tudo, afinal. Respostas. Lentamente o silêncio foi preenchendo o vazio daquela manhã. E eu não desejava mais do que o silêncio naquele momento. E formulei uma pergunta diferente: Por que o silêncio em vez das respostas? Menos confuso, menos triste, menos atordoado, ergui o corpo, fechei a janela e passei um café.

Olhei de novo minha imagem no espelho e lembrei-me que nada é para sempre. Um dia, não sei quando, vou partir. Provavelmente sem ter a menor idéia do destino. Quando esse dia chegar, estarei pronto, independente de ter sido preparado, mesmo contra a vontade, ainda que não compreenda o sentido. Nesse dia, possivelmente irei olhar para trás e ver que perdi muito tempo procurando explicações. Talvez não, mas aí isso realmente não terá mais tanta importância.

Do pó vieste e ao pó voltarás. A única certeza desse mundo, segundo os monges, intelectuais e pessoas como eu. Nesse dia acho que terei as respostas, sem muita complicação. Mas sendo assim não é preciso pressa. Nem para viver, nem para morrer. Se viver sem pressa de encontrar respostas, estarei dando um passo e tanto - nesse momento descobri. E agora, o caminho parece bem mais simples. Nem quero saber por quanto tempo. Essa resposta eu terei, todos teremos, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde. Portanto, não importa.

Um comentário:

nubia disse...

Boa noite ou bom dia?


Nesse início de madrugada eu aqui perdida e sem sono...
Gostei muito do seu texto. É claro, "papo reto".
Vou morcegar por aí.
Bjs