sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Reminiscências



Wish you were here. O som faz a imaginação viajar no passado... A música foi gravada na década de 70 pelo Pink Floyd, mas a lembrança que tenho é dos anos 80. Vivia cercado de amigos que tinham certeza de que tudo era para sempre: a amizade, o gosto pelas mesmas coisas, o tempo que tínhamos para viver.

Não importava o dia: segunda ou sábado, o estado de ânimo era sempre o mesmo, uma sensação boa de quem não quer perder um só minuto da vida. Nesse instante, senti algo parecido com auto-piedade. Estou apressado a caminho do trabalho, a bolsa e a cabeça cheia de compromissos, preocupações, prazos e metas a cumprir.

Os acordes da música me consolam. “So, so you think can tell...” A cidade ao redor em nada se parece com os lugares onde perambulávamos com passos decididos, o riso largo, cabelos longos, a mente tranqüila e o corpo esbanjando vigor.

Muda o som e ainda estou na metade do caminho. “Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito”. O Barão Vermelho de Cazuza agora é o centro das atenções em minha cabeça preguiçosa.

Engraçado pensar que 20 anos depois de Wish you were here, “Pro dia nascer feliz”, de Frejat e Cazuza, estourava nas rádios e nos fazia sentir que sim, haveria rock brasileiro para ouvir depois de Raul Seixas e Rita Lee.

A novidade foi recebida com entusiasmo, mas passou. Tudo passa. Muitos amigos sumiram, assim como minha gana de acompanhar tudo o que sai na mídia sobre música. Perdeu um pouco a graça. Outro dia li uma matéria que tinha o Jota Quest e o Babado Novo falando de “pop-axé”. Não dá.

Não no meu ouvido. Estou atrasado, os ponteiros do relógio avançam sem dar trégua. Uma moça se levanta para descer do ônibus. É morena e tem os cabelos longos. O corpo bem feito, uns 18, 19 anos, talvez. Um instante de atração física se passou até que lembrei da minha filha. Não que tenha ficado com remorso ou constrangido, afinal olhar não tira pedaço.

Lembrei de minha filhota de 12 anos porque em pouco tempo ela vai ter a idade que eu tinha quando curtia Pink Floyd e Barão Vermelho, entre outros tantos sons. E vai ter sentimentos parecidos, claro, à maneira dela. E depois dela virá meu filho, que hoje tem 7 anos.

A garota gosta de música para dançar – inclusive axé, para leve desgosto do pai. E o garoto eu ainda não sei. Por enquanto, diz que torce para o Fluminense (não sei se para me agradar). Quando chegar o dia deles lamentarem as novidades que substituem coisas muito melhores (como é o caso das bandas de rock de hoje em relação às de ontem) talvez eu seja apenas uma lembrança. Mas isso ainda vai demorar, espero.