tag:blogger.com,1999:blog-48366115951771809672024-03-12T22:03:48.080-07:00marco antônio alvesContos, crônicas e afinsMarco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.comBlogger34125tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-30407809583863619192017-06-05T12:57:00.001-07:002017-06-05T12:59:42.241-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWCeeIn-fYzyy-an_qheSe3vXFsgXvmRNKAWRDI0DFz6GLCGy1qJOlZIdOuwlmuvnsdWZMezRWDGNdB3VcmkWZkPD91GE_3P3rKk7AKan4ZxoifprZdEWKOliJBxtIpZNdvxrYn3vF34w/s1600/pcu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="459" data-original-width="720" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWCeeIn-fYzyy-an_qheSe3vXFsgXvmRNKAWRDI0DFz6GLCGy1qJOlZIdOuwlmuvnsdWZMezRWDGNdB3VcmkWZkPD91GE_3P3rKk7AKan4ZxoifprZdEWKOliJBxtIpZNdvxrYn3vF34w/s320/pcu.jpg" width="320" /></a></div>
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À cidade pequena<br />
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Saio de férias e resolvo passar uns dias no interior. Quero esquecer que existe jornal, encontrar gente que não vejo há muito tempo, descansar. Ficar longe da Internet, rádio e televisão, na medida do possível.<br />
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A casa onde vivi permanece de pé. Quando deito no meu quarto e olho para o teto é como se voltasse no tempo. Antigas frustrações e alegrias misturadas a imagens difusas que surgem do nada, lembranças de situações agradáveis e desconfortáveis. Uma viagem a que me permito toda vez que tenho tempo de estar nesse lugar.<br />
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O gosto doce e amargo do existir se alterna na alma. Beijos e abraços imaginários, frases ditas num olhar. Uma lágrima brota no canto do olho. Sorrio e me sinto gente na solidão voluntária do quarto onde passei a infância e parte da adolescência. A ausência de meu pai e minha mãe ainda sentida, mas com o passar dos anos aprendendo a superá-la, escamoteá-la ao menos.<br />
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Quero desfrutar das coisas simples. Ser verdadeiro com poucos gestos, sem alarde. Evitar estardalhaço, rir dos pequenos equívocos, do inusitado que só aparece quando temos tempo e sensibilidade para perceber.<br />
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A cidade de pouco mais de 20 mil habitantes é alimento para a memória. De um lado, cadeiras na calçada, conversas noturnas na brisa fresca, as ruas de pedra. De outro, a vista da colina e o claro-escuro formado pelo verde do pasto molhado e a copa das árvores.<br />
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Deixo-me levar por uma preguiça mansa, que às vezes parece incomodar os apressados. Também os há na pequena cidade do interior e alguns são dignos de pena. Parecem procurar por algo que jamais vão encontrar.<br />
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Cavaleiro andante, visitante ocasional e inesperado, forasteiro e nativo. Confundo os bons observadores que já não me conhecem direito.<br />
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A vida segue, difícil, mas ainda permite intervalos. Viajar para uma pequena cidade onde se tenha um canto. E depois poder voltar para casa de alma renovada e sem vontade de mudar o caminho que escolhemos.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-46395235665699402472015-03-26T10:57:00.002-07:002015-03-26T10:57:40.318-07:00SEGUNDA CHANCE<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF_fDQF5j2_sf3b24B-a8og-hgFk9tQ16lcgWg4XpOqWaczMcC8jjIaLt53S_wrfV5bB7JeQ33YU0eWYSVoQYcQyb6uLMziJBQ3Zv4WoSpq4ZGJ1s-OEo56c2RBbb0xU9QWKe9S_S3ryXj/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF_fDQF5j2_sf3b24B-a8og-hgFk9tQ16lcgWg4XpOqWaczMcC8jjIaLt53S_wrfV5bB7JeQ33YU0eWYSVoQYcQyb6uLMziJBQ3Zv4WoSpq4ZGJ1s-OEo56c2RBbb0xU9QWKe9S_S3ryXj/s1600/images.jpg" /></a></div>
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Carlos tem um sono agitado naquela noite. Rosna, fala sozinho, vira-se de um lado para o outro. Abre os olhos de repente. Levanta-se e vai até a cozinha. No caminho vê um envelope embaixo da porta. Mesmo na penumbra abre e consegue ler o bilhete: “Favor comparecer ao Hemonúcleo Central. Urgente. O assunto é de seu interesse.”<br />
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Ele está confuso. Tudo está confuso, o quarto gira. Diz para si mesmo: - Não deve ser...Não pode. (Vira a cabeça para o outro lado. ) Não pode ser...será?<br />
Atrás dele parte da janela mostra o dia começando, clareando objetos no quarto. O relógio marca cinco e meia. Ainda está escuro o céu da manhã de junho. Ansioso, ele decide. "Vou resolver essa história hoje mesmo", pensou. Tomou banho, um café rápido e saiu.<br />
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O relógio na parede marca 7h30 min. Carlos está sentado ao lado de outras pessoas numa sala. Na parede a placa diz - Hemonúcleo Central. Ao lado tem um calendário. Carlos tem o ar apreensivo. Põe a mão no queixo e sem se deter em nada ou ninguém, olha o vazio. Como num filme em flash-back, começa a se lembrar da ultima vez que estivera ali.<br />
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Foi há uma semana. Ele tinha um ar feliz e bem disposto. Ao contrário de agora, conversava com outras pessoas que tinham ido doar sangue, brincava com as crianças. Na vez dele, levantou-se e foi até o atendimento.<br />
A atendente pergunta: - Vai doar para quem?<br />
Carlos diz que é para um amigo, o nome está na lista. <br />
Ela volta a perguntar: - É a primeira vez?<br />
Ele: - Não. Meu sangue já circula nos outros - e ri, no que a atendente olha para ele sem achar graça.<br />
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A moça tem os olhos verdes – “morena lindíssima!”, pensou ele. Ela termina o cadastro e diz para Carlos se dirigir à sala de doação. Carlos agradece, tocado pela beleza da moça. Faz a doação, dura meia hora. “É rápido e até que não dói nada”, refletiu, satisfeito por ter ajudado um amigo. Uma enfermeira o ajuda a descer da cadeira. Coloca o esparadrapo no lugar da picada. Já de pé, é interceptado de novo pela atendente.<br />
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- O senhor vai querer o resultado do teste para HIV?<br />
Carlos se assusta um pouco. - Como? (Pergunta, surpreso). A atendente, com tranqüilidade, complementa: - Quem doa sangue tem direito ao exame de HIV gratuito. Fica pronto em uma semana.<br />
Carlos aceita. - Sim, quero - disse, ainda que forçando convicção.<br />
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Ele abre os olhos, como que saindo de um sono profundo. O relógio do banco de sangue marca 8 horas. E ele ali, ainda à espera do resultado do exame na sala do hemocentro.<br />
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Voltou a mergulhar em pensamentos. Lembrou-se de Manu. Manuela era o nome da gata. Aquele quarto colorido. Uma transa louca. Objetos pelo chão, Manuela grita, geme.<br />
- Vai meu garanhão! Carlos, você é demais! Ele tinha uma expressão tranquila. Manu ainda disse suspirando: - Não queria sair daqui nunca mais...<br />
Lembrou-se da cara de assustado quando olhou para o bilau. A camisinha, aberta, estourada.<br />
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- A porra da camisinha estourou! Ele diz em voz alta, as pessoas em volta olham para ele. Uma mãe puxa um garoto pelo braço e se afastam. Carlos recompôs-se, levantou e tomou um gole de água. A mesma atendente já não lhe chamava tanto a atenção. Foi até a mesinha no centro da sala e pegou uma revista. Retomou o lugar na sala de espera. De repente, fecha a revista e vai até o banheiro. Enquanto se olha no espelho, mexe os lábios, balbucia. Uma ansiedade ia tomando conta, o corpo esquentando, um tremor, o suor umedecendo as mãos, a testa. Uma sensação de que algo assustador estava por ser revelado. - Será? Mas ela parecia tão, tão... - Anda de um lado para o outro. A lembrança do corpo de Manuela a torturá-lo.<br />
- Não! Definitivamente.<br />
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Carlos volta ao lugar na fila. Levanta-se e vai até a atendente. Como se fosse penitência, mexe negativamente a cabeça ao mirar a bunda da moca. Pergunta: - Vai demorar muito?<br />
- Só mais um minuto. (Diz a moca, e depois entra numa sala.)<br />
- Só mais um minuto! (Reclama. Depois vira-se para um homem que aguarda atrás dele e diz - Ela não tem noção do que significa um minuto para mim.<br />
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Ah! Vida que é tão cara! E recita o trecho de um poema de Fernando Pessoa. Com cara de assustado o homem do lado faz sinal de concordância, depois parece ter pena e também se afasta um pouco.<br />
A moça volta com um envelope na mão. Abre sem fazer cerimônia e quando começa a ler o conteúdo, a vista de Carlos embaça. Ele desmaia, no que é socorrido pelas pessoas em volta.<br />
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Acorda num quarto de hospital. Pergunta ao médico:<br />
- Quanto tempo eu tenho, doutor?<br />
O médico diz - O bastante. Tem plano de saúde? Você foi atendido aqui mesmo, do lado do hemocentro e esse hospital é particular...<br />
- Não vou continuar meu tratamento aqui, doutor – disse Carlos, resignado. Além do mais, o senhor sabe que os planos de saúde não cobrem o tratamento dessa doença.<br />
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Carlos olha o médico fixamente, mas parece ter o olhar perdido, como quem já não tem esperança. O Médico diz: Como não cobrem? Você precisa fazer uns exames, mas todos são cobertos pelo seu plano. Carlos continua a se queixar - E os medicamentos, doutor? Terei que arcar com eles de qualquer forma...<br />
- Isso realmente não tem jeito - disse o medico secamente, e já se dirigia ate a porta quando Carlos começa a chorar. O médico que ia saindo, se detém e olha a cena, incrédulo.<br />
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Carlos bate com os punhos no colchão e esbraveja entre soluços: Tudo culpa minha mesmo. Burro! Burro!<br />
- Não é para tanto...diz o médico.<br />
Carlos completa: - Homem é tudo idiota mesmo. E ainda comprei aquela camisinha vagabunda... Eu a conheci na mesma noite, doutor. Nos demos muito bem e acabamos no apartamento dela.<br />
Lembrava claramente dos amassos, a cena dos dois se beijando. Continuou a lamúria: Foi mágico...e trágico! Olha a minha situação agora! Ela também, mas podia ter me contado. Que vai ser agora.??.. (Chora)<br />
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A porta do quarto se mexe. Chega a atendente. - Senhor Carlos?<br />
Carlos enxuga o rosto, tenta se refazer.<br />
A atendente diz: Seu exame de HIV... deu negativo. Quando o senhor vem doar sangue de novo?<br />
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Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-53488039473268939492013-11-08T13:57:00.000-08:002024-02-07T10:59:37.906-08:00<span style="font-family: trebuchet ms;"><span style="font-size: 180%;">O pai dos pobres</span><br /><br /><em>* Por Marcos Alves</em></span><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-DbYxyb7UUm1FA3GjrT5SzBP_yGsJhIvXsnfM5AcNQ7nyoLRk-psLpaZb3QfDQfdQWmU4EOxLNM8OGs_WFppxluz0zyiGWB3Q2rZmVP2e-_fAR8kiQxotqhp_djJ3q9iW4XV93A-2ponq/s1600/%C3%8Dndice.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-DbYxyb7UUm1FA3GjrT5SzBP_yGsJhIvXsnfM5AcNQ7nyoLRk-psLpaZb3QfDQfdQWmU4EOxLNM8OGs_WFppxluz0zyiGWB3Q2rZmVP2e-_fAR8kiQxotqhp_djJ3q9iW4XV93A-2ponq/s1600/%C3%8Dndice.jpeg" /></a></div>
<span style="font-family: trebuchet ms;"><em> </em><br /><br /><br /></span><div>Era um cara popular. “Homem de carisma!” – garantiam os mais próximos. Apresentador de TV, fazia sucesso prometendo resolver os problemas dos humildes, dos sem chance, dos sem casa, dos sem amor, sem esperança, sem nada.</div><div><br /></div><div>Atuava no varejo. Pinçava um desgraçado qualquer e o colocava diante das câmeras a implorar por ajuda, depois de destilar seu rosário de miséria, não ocasionalmente seguido de um choro incontido – "melhor para os números!", grita o diretor pelo ponto eletrônico. Quando a “vítima” chora no ar, aí é o momento de emendar um fundo musical adequado, bem triste para e-mo-cio-nar.</div><div><br /></div><div>Se o convidado ou convidada começa a rir de nervoso, então... ele emendava: “É sem-vergonha!” – e o sonoplasta emenda outra música, agora com letra de duplo sentido, cheia de sacanagem, escárnio e palavrões.</div><div><br /></div><div>Gargalhadas no estúdio. A claque vai ao delírio, grita ao som da música ruim, é o público cativo formado pelos técnicos da emissora e amigos, além de parentes dos convidados do programa. De repente, o apresentador muda de câmera./ De frente pra lente em close ele pede silêncio. Vira-se para o convidado, e agora em tom sério e com o semblante preocupado pede a ele que conte sua história, relate o problema que o levou a procurar ajuda.</div><div><br /></div><div>O miserável diz que está desempregado e a noiva espera uma criança para o mês que vem. Quer uma máquina de pipoca, um carrinho para trabalhar de ambulante. O apresentador ainda pergunta outras coisas antes de tecer um comentário sobre a situação difícil desse “brasileiro sofrido”. Chama a atenção das autoridades, diz que isso não é possível, muda de câmera de novo e garante: vai resolver o problema do rapaz.</div><div><br /></div><div>Termina o programa, o apresentador sai do estúdio sorridente. Com ar cansado diz que precisa ir embora rápido, tem compromissos importantes. Não vê a fila de gente esperando no corredor, cada qual com seu drama pessoal, sua batalha, sua luta. O homem sai do prédio, entra na garagem, vai até o carro que arranca levantando uma nuvem de poeira. Também não vê outra fila, ainda maior, de toda sorte de renegados: viciados em crack, em pinga, em cola, em cocaína, pessoas sem senso de espaço nem tempo. Um mar de gente aglomerada em meio à sujeira na calçada do centro da cidade.</div><div><br /></div><div>A audiência do programa crescera geometricamente nos últimos 3 meses e o camarada faturava alto. Graças a um público fiel se tornou o “Pai dos pobres”, diziam os fãs na fila interminável. “Vai atender a todos nós”, acreditavam.</div><div><br /></div><div>“Será ?”, soprou uma voz fraca, no meio daquela gente toda. “Vai sim, ele disse que vai!”, respondeu uma defensora do homem, procurando saber de onde surgiu a dúvida. Veio de uma senhora sentada em uma cadeira de rodas, os braços finos, fracos, o rosto cansado e a alma desconfiada de tanta benevolência.</div><div><br /></div><div>A necessidade de ter uma nova cadeira falou mais alto e lá estava ela, na fila. Era a terceira vez que vinha, em 2 meses, e ainda não tinha conseguido vaga na “Tribuna do Povo” – espécie de púlpito colocado no estúdio onde as pessoas falavam de seus problemas e faziam os pedidos.</div><div><br /></div><div>Alguns meses passaram e a fila ficava cada vez maior. “Viu só aquilo?”, disse um produtor do programa. “Onde vai parar isso?”. “No topo, amigo. Só vai parar quando chegarmos ao topo”. A resposta foi dada pelo próprio apresentador, que entrou na redação depois de passar pelos pedintes protegido pelo vidro escuro do carro.</div><div><br /></div><div>Só que a situação preocupa. A fila na porta já não se restringe ao quarteirão da emissora. Não é mais como era nos outros dias. O atendimento passou a ficar demorado. Há tantos pedidos, tamanha demanda que jamais será atendida – nem se o programa ficar mais 10 anos no ar. E como comunicar isso àquela multidão?</div><div><br /></div><div>O apresentador tem uma idéia. “Vamos amenizar o discurso, diminuir as doações. Depois a gente pensa em um novo ‘gancho’ para o programa, mas sem tanto assistencialismo, que esse negócio anda ficando muito caro. O empresário doa, mas depois exige muito em troca e onde é que fica o meu? Cadê o meu?!”, falou, aos berros, como de costume.</div><div><br /></div><div>Depois, continuou. “Saúde e emprego são problemas do governo. Se eles não dão jeito, a gente é que vai dar?” Vira-se para a assistente de produção e ordena: “Paula, vai lá fora e avisa que as inscrições foram suspensas por tempo indeterminado”.</div><div><br /></div><div>A moça chega até o portão, mas nem consegue abrir a boca. As pessoas se jogam aos pés dela, mostram feridas, braços engessados, muletas, fotografias de pessoas convalescendo em leitos de hospitais, cartas mal-escritas, sujas e amarrotadas. Prestes a receber o diploma de jornalista, nunca esteve tão perto do desespero do povo brasileiro.</div><div><br /></div><div>Paula não consegue cumprir a ordem e leva um esporro do apresentador. “Eu mesmo vou lá, não mando recado. Deixa comigo”, e saiu em direção ao portão da empresa. “Minha gente!” Não teve tempo de dizer a segunda frase, foi agarrado, puxado pela gravata, caiu no meio da rua. Ele também nunca havia sentido o cheiro do povo tão de perto.</div><div><br /></div><div>Perdeu os óculos na queda, e teve uma visão embaçada das cartas, dos rostos, das mãos. Levantou-se, ajeitou os cabelos, a gravata, tirou o pó e levantou uma das mãos. Queria terminar logo aquilo. “A partir de segunda-feira, vocês não precisam mais vir aqui. Basta telefonar ou mandar um e-mail, peçam para seus filhos, sobrinhos, amigos... E dentro do possível, iremos atender a....”</div><div><br /></div><div>De novo, não teve tempo de terminar a frase. Foi uma confusão total. Antes fiéis admiradores, as pessoas agora ficaram hostis, agressivas. O apresentador ao perceber que seus argumentos só aumentavam a ira daquela gente toda ergueu as mãos para a guarita, pediu ajuda dos seguranças. Mas todos estavam ocupados em proteger o patrimônio da empresa, no caso, os vidros da fachada ameaçados por paus e pedras nas mãos dos revoltosos.</div><div>Nada foi suficiente para convencer aquela gente a desistir. Os vidros foram quebrados, a sala de espera destruída. Um cenário de guerra: poltronas rasgadas, terminais de computador jogados no chão, pedaços de madeira, plástico e materiais usados em cenários, tudo espalhado, pisoteado, inutilizado.</div><div><br /></div><div>“Essa gente não tem educação mesmo”. A boca costurada dificulta a pronúncia e a compreensão, mas os filhos e a mulher do apresentador entenderam a frase. Nem na cama do hospital, ele alterou o estilo.</div><div><br /></div>Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-34089400799111478512012-05-22T16:45:00.000-07:002012-05-22T16:53:17.735-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<span style="font-size: large;">A última jornada</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiocT5iEgy205EhKhx2ALQZSXW5M1NwDVNElB3y0T4uSW2kl2LY1Gy4JYeEJqw-p4XMrO-EftyUPbHRc4o1vP-NcjuimMXQddDUDA_mgJ3DM25OdsJbAmk2WGJOxF2L1-yt5WeFVMJjgTVL/s1600/vermelho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="183" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiocT5iEgy205EhKhx2ALQZSXW5M1NwDVNElB3y0T4uSW2kl2LY1Gy4JYeEJqw-p4XMrO-EftyUPbHRc4o1vP-NcjuimMXQddDUDA_mgJ3DM25OdsJbAmk2WGJOxF2L1-yt5WeFVMJjgTVL/s320/vermelho.jpg" width="275" /></a></div>
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Era o último dia de trabalho! e Juvenal não se fez de rogado. Naquela segunda-feira, chegou atrasado, de zoação com os companheiros e esbanjando incomum bom humor (os colegas o achavam meio "carne de pescoço" no dia-a-dia).<br />
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Adiou a sensação de perda que fatalmente viria com o passar do tempo, enfiado dentro de casa e fazendo pequenos reparos domésticos. Afinal, foram décadas dirigindo os ônibus da empresa. A tão sonhada aposentadoria chegara.
- Comecei com carroças, gostava de dizer. - Agora tá tudo um creminho..., frisava com ar de autoridade para os colegas mais jovens que certamente teriam de dar duro ainda por um bom tempo antes que, como ele, pudessem celebrar o derradeiro dia de labuta.<br />
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Mastigava, desajeitado, um chiclete para disfarçar o cheiro de álcool. Tinha começado a festa cedo, antes da jornada que, naquele dia, apenas começava. Desceu a rua e na primeira curva entrou num poste.Saiu de maca, sob olhares assustados e com uma baita dor de cabeça.<br />
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<br />Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-54891314490331266802011-07-05T15:04:00.000-07:002011-07-05T15:07:06.124-07:00Porta de cadeia<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmhZP9qPO1w-B8w47XFV1w6t6U8962NfvcwQoJvUs1waTOG71N8FIipKgxf9-6IFZL4mnyyGC-0oYzo7K5WoM_dtrn6OKEJJbeUUSVQXsvgH_Zck5tAmTGX9RJkNIWuK9zN3jDuNFiFOxv/s1600/menor_abandonado.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmhZP9qPO1w-B8w47XFV1w6t6U8962NfvcwQoJvUs1waTOG71N8FIipKgxf9-6IFZL4mnyyGC-0oYzo7K5WoM_dtrn6OKEJJbeUUSVQXsvgH_Zck5tAmTGX9RJkNIWuK9zN3jDuNFiFOxv/s320/menor_abandonado.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5625993169950912594" /></a><br /><br /><br />Um grupo de seis adolescentes é preso em Contagem, cidade vizinha a Belo Horizonte. Entraram em um ônibus com uma réplica de revólver, e levaram tudo o que os passageiros entregaram: celulares e o dinheiro do bolso. Teriam esquecido os relógios e cordões?<br /><br />Permaneceram dentro do ônibus, queriam descer “em outro ponto”, relatou o motorista na delegacia. Algumas pessoas desceram antes, avisaram um carro da polícia e o ônibus foi interceptado e eles foram recolhidos (Na maioria das redações se proíbe escrever que um menor é preso, por ser ilegal, mas na prática... basta ver a garota de 15 anos que ficou em uma cela com vários homens, no Pará!).<br /> <br />Não tinham ainda passagem pela polícia; informação passada logo depois. Apenas dois têm mais de 18 anos, os outros são menores, inclusive duas meninas que participaram do assalto.<br /><br />Foram para a delegacia com menos de cem pratas, dois ou três celulares e pagaram o mico de tomar beliscões das mães, ainda na calçada. ”Iniciantes”, pensei, moleques com um futuro pouco encorajador e um presente perigoso.<br /><br />As mães encostadas no muro do prédio esperam, há pouco o que fazer. Em volta, apenas curiosos e o pessoal da imprensa, uns poucos gatos pingados. Uma delas, atrapalhada com microfones, responde que não sabe o que houve.<br />- Meu menino anda diferente. A mãe sabe quando um filho está diferente...<br /><br />Fala enquanto chora, e ouve a próxima pergunta.<br /> - Diferente como?<br />A mulher suspira, e em menos de um segundo ouve a próxima.<br /> - Não comia em casa? Não dormia em casa? Ele estava estranho?<br /> - Não. Ele... Ah, não consigo.<br /><br />Chega outro repórter e pergunta se a mulher era parente de algum dos garotos. Ela tem vergonha, olha para baixo.<br /><br />Os adolescentes, antes à vontade, apressam-se em cobrir os rostos para as câmeras de TV que surgem no corredor. Conversam, cochicham entre si, forçando a testa contra a parede, um clichê que eles devem ter aprendido com as milhares de vezes que viram isso na TV.<br /><br />Talvez no dia seguinte estejam nas páginas policiais de um jornal qualquer, talvez não. Pode surgir uma notícia mais forte, um assalto a banco ou algo melhor, quem sabe uma chacina? Mas se não rolar nada vai ser esse mesmo. GANGUE DO ÔNIBUS ACABA NO XADREZ<br /><br />Arma, bandidos, celulares e dinheiro. Isso basta, está armada a lona, deixa o circo pegar fogo. <br /> - Era um menino bom, me respeita em casa, é evangélico. Ele não vai mais fazer isso.<br /><br />A mãe tem sincera esperança nas palavras e o coração despedaçado. Agarra a grade com mão e olha uma vez mais para dentro. Na porta, policiais conversam relaxados, indiferentes à sua tristeza. Na verdade, alguns deles como alguns jornalistas, podem até pensar no sofrimento dessa mãe.<br /><br />Ela ainda vai tentar “consertar” o menino ou a menina – um bom “puxão de orelhas” pode ser redentor nesses casos. Mas ninguém mais se ilude nesse campo no Brasil. Claro, com tantos crimes cometidos por jovens! O ruim mesmo é que fora essa desilusão restam poucas, raras alternativas capazes de resgatar esses brasileiros perdidos. Restam as mães que ainda esperam os filhos voltarem para casa.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-40248778645006520732011-03-06T16:13:00.000-08:002011-03-07T12:48:35.994-08:00Fantasia e realidade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSMonPNjKEEFpS4cyyWBJc91EuitR8skqOm98yLqR3cxbKw0iE_oZUiS58GbxovcuU5QRVkOHV3tXnk2LQGXVIJVxIGWNMW0lZ6K4pgChcXGLfwam-ecRn2qbyvXJvq57S-3W4nED2b9RQ/s1600/risco"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 234px; height: 216px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSMonPNjKEEFpS4cyyWBJc91EuitR8skqOm98yLqR3cxbKw0iE_oZUiS58GbxovcuU5QRVkOHV3tXnk2LQGXVIJVxIGWNMW0lZ6K4pgChcXGLfwam-ecRn2qbyvXJvq57S-3W4nED2b9RQ/s320/risco" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5581128697048130930" /></a><br /><br /><br />Em busca do texto perfeito, ele insiste em dedilhar o teclado. Sabendo de antemão que ao final das frases restará uma sensação desagradável. Quase sempre fica insatisfeito. Nada além de uma idéia não terminada ou mal escrita. Quer uma boa história, com picardia, humor, paixão. "Mas um ser tão impregnado das `coisas`, desse nosso tempo jamais pode escrever algo assim", auto-censurou-se. "Preciso me libertar da concepção adquirida no trabalho acerca do ofício de escrever. Livrar-me dos desejos, crenças e formalidades arraigadas em minha personalidade. Mas me falta coragem, aproach (estou contaminado por um certo colonialismo cultural e suspeito ser essa uma das causas do meu fracasso como pensador). Resisto à idéia de desistir. Mas estou ficando desesperançado, pois a cada dia recomeço as frases e logo sou levado a interromper."<br /><br />Enquanto ele se queixava, ela abriu a porta do quarto e perguntou. – Vamos? Sem disfarçar o aborrecimento ele desvia o olhar para o chão, exprimindo cansaço.<br /><br />– Ainda não terminei. <br /> -Nem vai terminar, querido, porque são oito e meia e a festa é às nove. Sabe como Alice é pontual e nota quando alguém se atrasa nas festas de aniversário das filhas. Ainda mais sendo aniversário da Júlia, vc sabe...<br /><br />Ela continuou a falar , enquanto ele permaneceu imerso em pensamentos sobre a dificuldade de conciliar a mente etérea e fluida com os compromissos terrenos. <br /><br />No chuveiro, ele pegou o sabonete e começou a se esfregar vagarosamente. O artigo era para segunda feira. Teria ainda o domingo para terminar. Quem sabe amanhã teria uma boa idéia, aproveitaria uma notícia de jornal, acharia um gancho para o texto. <br /><br />- Onde estão as meias limpas? <br />- Não sei, acho que no armário, na terceira gaveta. <br /><br />Vestiu a roupa, ajeitou o cabelo, a mulher já pronta, as crianças no carro. Foram para a festa de aniversário. <br /><br />Barulho de apitos, Karaokê, piscina de bolinhas, a mesa decorada com figuras de uma conhecida heroína infantil. "Bacana, de qualquer forma é bom se distrair um pouco", pensou. De ruim, apenas as conversas inevitáveis com cunhados, amigos dos cunhados, carros, futebol, e piadinhas de mau gosto sobre mulheres, pretos e viados. O de sempre. No meio do salão, uma bela jovem se incumbia de brincar com a criançada. De vez em quando pegavam um adulto para cristo e o colocavam no meio da roda. Ele procurou um lugar de difícil acesso, a cadeira mais escondida da última mesa, perto da cortina. Ali estaria seguro. <br /><br />Mas cismaram com ele. Foram até lá e o trouxeram pela mão, todo sem jeito, para a brincadeira. Teve que dançar um bolero com a mãe da aniversariante, e até que não foi tão ruim. Lembrou-se de Nelson Rodrigues, dos desejos inconfessáveis que surgem nas horas mais impróprias. Aquele corpo... estava com as mãos nas costas mais lindas que já tinha tocado. Agora a ocasião permitia. Dançaram até o fim da música, e ele teve a sensação de que ela demorou-se um pouco a desfazer a posição em que ficaram por longos e gostosos minutos. Não foi tão ruim, pelo contrário e ele voltou a se sentar com o humor refeito. Bebeu um gole de cerveja, comentou com a sogra que há tempos não dançava, e que estava feliz com a performance. <br /><br />De repente, lá fora, um carro da polícia chama a atenção dos convidados. Uma criança morreu durante uma troca de tiros entre bandidos, e a polícia veio avisar a mãe. A mulher, de cinqüenta e poucos anos, saiu arrasada. Trabalhava como doméstica na casa de uma convidada e estava ajudando na festa. Segundo a Polícia Militar, Bruna de Castro Souza, de 12 anos, foi baleada na cabeça e no pescoço. A garota ainda foi socorrida, mas já chegou morta ao hospital. Muito abalada, a família disse que a menina tinha saído de casa para comprar um doce, e acabou sendo ferida no tiroteio. De acordo com a PM, a menina tentou fugir de uma briga de gangues que disputam o tráfico de drogas no local. <br /><br />Ele perdeu o humor, mas conseguiu o tema para o artigo. Não, não precisaria mais do texto perfeito, esse podia esperar. Iria falar agora de algo mais urgente. O clima de guerra civil num país desigual e corrupto. O trivial do jornalismo. O tipo de assunto que vende e desperta comoção. Outro dia, talvez, iria se sentar para escrever o texto almejado. Quando pudesse falar do quanto desejou àquela mulher com quem dançou o bolero. Quando pudesse sentir a verdade saindo da alma e não tivesse vergonha ou medo. Quando fosse humano o suficiente para errar e deixar pistas. Quando deixasse de lado a dissimulação e os artifícios baratos para satisfazer a família, a empresa, os amigos. Quando estivesse com o coração limpo, mesmo correndo riscos. Como a menina que morreu a caminho do bar, onde iria comprar um doce.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-38827411267025098912011-03-02T14:11:00.000-08:002011-03-02T14:15:25.632-08:00Linhas cruzadas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCwq-B9ha4-NuJEw59ARG3l2IoymW5R41qvTZzRni151sO7hyzK5lDxISydLelbhwa6FJC7z9Do_ap4R-9gRavS_daQ9xw80dMv_Rid9hZPzMWFWKU47-98fHDUjwS6GE84NBEZaZqHVQS/s1600/fone.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 217px; height: 233px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCwq-B9ha4-NuJEw59ARG3l2IoymW5R41qvTZzRni151sO7hyzK5lDxISydLelbhwa6FJC7z9Do_ap4R-9gRavS_daQ9xw80dMv_Rid9hZPzMWFWKU47-98fHDUjwS6GE84NBEZaZqHVQS/s320/fone.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5579609675472491570" /></a><br /><br />Celso discute em altos brados com a mulher, Laura. Ela duvida da fidelidade do marido e suas suspeitas aumentaram depois da última noite, quando ele chegou tarde, “com a roupa cheirando a cigarro e perfume barato”, as últimas palavras dela antes do telefone tocar. Celso atende.<br />- Alô?<br />- Celso?<br />- Ele!<br />- É Oscar, gerente do banco.<br /><br />Celso faz uma careta, costuma fazer expressão de dor nessas ocasiões, coisa que sempre diverte Laura, mas dessa vez ela não moveu um músculo sequer do rosto. Ele começa a conversa: “Oi, tudo bem?” Mas logo diz “um minuto só” e larga o telefone para atender ao celular, que também toca.<br />- Alô.<br />- Celso, é Mauro. E aí, cara deu merda?<br /><br />Ele larga o telefone assim que escuta outra insinuação da mulher.<br />- Eu sei muito bem o que você foi fazer lá...Você e aquele seu amigo que nem gosto de falar o nome...<br />- Mauro...<br />- Esse mesmo. Cadê ele? Por que você acompanha esse tipo de pessoa? Esse babaca é um irresponsável, Celso, é por isso que a Telma está quase separada dele!<br /><br />Celso esquece os telefones, celular e fixo, senta no sofá, passa as mãos pela cabeça, respira fundo e começa a falar calmamente, em voz baixa e tom ameno.<br />- Eu já disse a você que não, não aconteceu nenhuma sacanagem nessa maldita festa. Eu não sei como a Telma e o Mauro estão, não os vi ontem e repito: só passei lá porque o pessoal insistiu muito, e queria ver a tia Lourdes, estava com saudades e ela ficaria sentida se eu não fosse. Aliás, nunca mais falei com o Mauro depois daquele dia em que estávamos todos lá, na casa dela. Quando foi mesmo?<br />- Olha, não vem com esse papo, essa conversinha mole que eu não vou cair não, tá? E tem mais, estou sabendo que a Mônica e a Marluce estavam na tal festinha de ontem. A Telma já tinha me alertado sobre essas piranhas!<br />- Você está completamente doida!<br /><br />Celso praticamente ignora a última acusação e, com uma distinção britânica, pega o telefone celular de volta.<br />- Pode falar Oscar, o que você quer?<br />- É o Mauro, cara.<br /><br />Ele se encolhe e tapa a boca com uma das mãos ao falar baixinho, mas com energia:<br />- Nossa! Dá um tempo aí, pô! Mas não desliga não, já falo contigo.<br /><br />Joga o celular no sofá e pega o fixo.<br />- Alô, João Paulo, pode falar.<br />- Não é João Paulo, é Oscar.<br />Ah...desculpe, Oscar.<br /><br />E se fazendo de esquecido, pergunta:<br />- Sobre o que falávamos?<br />- Sua conta está estourada.<br /><br />A mulher solta outro impropério, lá do banheiro, tão alto que até o gerente do banco e o Mauro ouviram. Celso esquece os telefones e vai até o meio da sala.<br />- Por que não diz logo quem foi que me envenenou com você, Laura?<br />- Ninguém me disse não. Dá para ver na sua cara!<br /><br />Celso sabia que ela falava assim para jogar um verde, desequilibrá-lo, arrancar uma confissão ou quase isso. Lembrava de quando chegou tarde do futebol por causa de uma esticadinha no churrasco da república das meninas e de tanto ela dizer que estava “na cara que ele tinha aprontado” acabou dizendo que sim, que tinha ido a um churrasco e tinha mulher lá, mas não se engraçou com ninguém porque era casado, amava a família e tal e essas coisas. Na verdade, nesse dia ficou tão bêbado que depois de certo tempo mal conseguia conversar na festa. “Dessa vez não serei tão ingênuo”, pensou.<br /> <br />Celso pega o telefone celular. Na verdade, começa a ficar meio atordoado.<br />- Ainda bem que você não desligou. Minha mulher está muito, muito desconfiada. Mas eu não posso cair...a coisa já não está boa, devendo no banco e tudo. Como é que eu vou para um hotel ou coisa parecida? Vou morrer na sarjeta!<br /><br />A ligação é ruim. Ele nem ouve quem está do outro lado e fala sem parar.<br />- Quer dizer... não aconteceu quase nada, ficamos conversando, dei uma alisadinha nas coxas dela. Rapaz, que espetáculo! Mas não passou disso, sabe? Bem, depois que você saiu o bicho pegou, mas não tinha mais ninguém lá. Só eu, o Marcos e as garotas, certo? Olha, vou desligar. Minha mulher pode aparecer a qualquer momento.<br /><br />Desliga e pega o telefone fixo.<br />- Oscar! Vou ver o que consigo para cobrir isso aí.<br />- Celso, acho melhor eu ligar em outra hora. Melhor, liga você para mim. Bateram alguns cheques na sua conta e o limite do especial estourou, é preciso cobrir. Mas pelo jeito, você tem algo mais urgente pra resolver.<br /><br />Telma, que tinha pego o celular do Mauro por acaso e ouviu a história toda, a essa altura discava para o celular de Laura.<br /><br />(*) JornalistaMarco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-58300740331527069772011-01-31T12:20:00.000-08:002011-01-31T12:29:06.699-08:00Necessidade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLh6TcPuLNjy9n8PMfkhYqrM6gBqeuEopBT71atndaiAm9T1ftVo3fOPpo8Zg_BtZkvNO-hVcmnb7G5ohBELIKh_vH_68pDn2hyYLs2Mr8FhLizu0PzW4EXSIEaEiaSErvso75YGpCFb3m/s1600/abraco.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 199px; height: 253px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLh6TcPuLNjy9n8PMfkhYqrM6gBqeuEopBT71atndaiAm9T1ftVo3fOPpo8Zg_BtZkvNO-hVcmnb7G5ohBELIKh_vH_68pDn2hyYLs2Mr8FhLizu0PzW4EXSIEaEiaSErvso75YGpCFb3m/s320/abraco.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5568448987344341938" /></a><br /><br /><br />A arte é necessária,<br />como o carinho, <br />o adorno, o afago.<br /><br />Tanto quanto o abraço, <br />o esforço, o esmero,<br />que não são arte,<br />mas condição para ser humano.<br /><br />O suporte,o estofo,<br />o motor da história,<br />mas não arte.<br /><br />Arte é um sopro,<br />Um toque, um espasmo, um grito.<br />O átomo e a montanha,<br />o homem e a natureza.<br /><br />A paz é arte,<br />assim como o fogo.<br />Há quem diga<br />que há guerra <br />no estado da arte.<br /><br />Arte, para mim, é o olhar de minha avó.<br />Parecido com outros que vi,<br />por aí, mas nunca iguais,<br />ao olhar sereno e forte<br />de Dona Adozinda.<br /><br />O deleite dos sentidos:<br />Miró, Rosa, Goethe, Rimbaud.<br />Da Vinci, Proust,<br />Tom Jobim, Led Zeppelin,<br />Buñuel e... quem mais?<br /><br />Se não fosse pela arte<br />Tudo seria insuportavelmente prático.<br />E a vida reduzida a pequenas escolhas.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-1219812968496309082011-01-17T12:09:00.000-08:002011-01-19T04:35:43.762-08:00O pai dos pobres<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaC3WN23U2eXWeFBTcAv6j_tKXjzO8rySWqgQlbS1uPtnmlnlq7qD0gox1nRIz48VZguwKGeqBv35dm6IrzQmITAVgzBJIKw5QAb2H-83vrq7K2VlrQQx39VNl39hvNVgjipeLtG7XXdo0/s1600/lbo+em+pele.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 223px; height: 167px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaC3WN23U2eXWeFBTcAv6j_tKXjzO8rySWqgQlbS1uPtnmlnlq7qD0gox1nRIz48VZguwKGeqBv35dm6IrzQmITAVgzBJIKw5QAb2H-83vrq7K2VlrQQx39VNl39hvNVgjipeLtG7XXdo0/s320/lbo+em+pele.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5563250131213352754" /></a><br /><br /><br />Era um cara popular. “Homem de carisma!” – garantiam os mais próximos. Apresentador de TV, fazia sucesso prometendo resolver os problemas dos humildes, dos “sem oportunidade, dos sem casa, sem-amor, sem-salário, sem-esperança”. <br /><br />Atuava no varejo. Pinçava um desgraçado qualquer e o colocava diante das câmeras a implorar por ajuda, depois de destilar seu rosário de miséria, não ocasionalmente seguido de um choro incontido – tanto melhor para os números! Quando a “vítima” chora, aí é o momento de emendar um begezinho adequado, uma música bem triste para e-mo-cio-nar.<br /><br />Se o convidado, ou convidada, começava a rir, reação natural pelo nervosismo de estar na TV, ao vivo, ele emendava: “É sem-vergonha!” – e o sonoplasta emenda outra música, agora com letra de duplo sentido, cheia de escárnio e palavrões.<br /><br />Gargalhadas no estúdio – a claque era formada pelos técnicos, curiosos e amigos e parentes de convidados. Depois o apresentador muda de câmera e, em close (imagem fechada no rosto, quase um 3x4), pede silêncio. Vira-se para o convidado, agora em tom sério e com o semblante preocupado e pede para que ele relate o problema que o leva a procurar ajuda. <br /><br />O miserável diz que está desempregado, a noiva espera uma criança para o mês que vem. Quer uma máquina de pipoca, um carrinho para trabalhar de ambulante. O apresentador ainda pergunta outras coisas antes de tecer um comentário fascista sobre a situação difícil desse “brasileiro sofrido”. Chama a atenção das autoridades, diz que isso não é possível, muda de câmera de novo e garante: vai resolver o problema do rapaz.<br /><br />Termina o programa, o apresentador sai do estúdio sorridente. Com ar cansado diz que precisa ir embora rápido, tem compromissos importantes. Não vê a fila de gente esperando no corredor de entrada da emissora. Entra no carro, levanta uma nuvem de poeira antes de deixar o estacionamento e também não vê a outra fila, ainda maior, do pessoal que nem conseguiu entrar.<br /><br />A audiência crescera geometricamente e o camarada faturava alto. Ele chegou dirigindo um carro velho, agora estava de camionete importada. Trocara também de apartamento, e “até de mulher” gostava de frisar. Vivia agora uma doce rotina de viagens, e despesas caras com roupas, restaurantes e hotéis. <br /><br />Graças a um público fiel, sempre disposto a passar por uma ´humilhaçãozinha” para conseguir uma ajuda, se tornou o “Pai dos pobres”, diziam os fãs, alguns ali na fila interminável. “Vai atender a todos nós”, acreditavam.<br /><br />“Será ?”, soprou uma voz fraca, no meio daquela gente toda. “Vai sim, ele disse que vai!”, respondeu uma defensora do homem, procurando saber de onde surgiu a dúvida. Veio de uma senhora sentada em uma cadeira de rodas, os braços finos, fracos, o rosto cansado e a alma desconfiada de tanta benevolência.<br /><br />A necessidade de ter uma nova cadeira falou mais alto e lá estava ela, na fila. Era a terceira vez que vinha, em 2 meses, e ainda não tinha conseguido vaga na “Tribuna do Povo” – espécie de púlpito colocado no estúdio onde as pessoas falavam de seus problemas e faziam os pedidos.<br /><br />Alguns meses passaram e a fila ficava cada vez maior. “Viu só aquilo?”, disse um produtor do programa. “Onde vai parar isso?”. “No topo, amigo. Só vai parar quando chegarmos ao topo”. A resposta foi dada pelo próprio apresentador, que entrou na redação depois de passar pelos pedintes protegido pelos vidros escuros do carro. <br /><br />Mas a situação preocupava. A fila na porta da emissora não estava como nos outros dias. O atendimento era demorado e a maioria não ia ser atendida – nem se o programa ainda ficasse 10 anos no ar. Mas como comunicar isso àquela multidão? <br /><br />O apresentador tem uma idéia. “Vamos amenizar o discurso, diminuir as doações. Depois a gente pensa em um novo ‘gancho’ para o programa, mas sem tanto assistencialismo, que esse negócio anda ficando muito caro. O empresário doa, mas depois exige merchandising e onde é que fica o meu? Cadê o meu?!”, falou, aos berros, como de costume. <br /><br />Depois, continuou. “Saúde e emprego são problemas do governo. Se eles não dão jeito, a gente é que vai dar?” Vira-se para a assistente de produção e ordena: “Paula, vai lá fora e avisa que as inscrições foram suspensas por tempo indeterminado”.<br /><br />A moça chega até o portão, mas nem consegue abrir a boca. As pessoas se jogam aos pés dela, mostram feridas, braços engessados, muletas, fotografias de pessoas convalescendo em leitos de hospitais, cartas mal-escritas, sujas e amarrotadas. Prestes a receber o diploma de jornalista, nunca esteve tão perto do desespero do povo brasileiro. <br /><br />Paula não consegue cumprir a ordem e leva um esporro do apresentador. “Eu mesmo vou lá, não mando recado. Deixa comigo”, e saiu em direção ao portão da empresa. “Minha gente!” Não teve tempo de dizer a segunda frase, foi agarrado, puxado pela gravata, caiu no meio da rua. Ele também nunca havia sentido o cheiro do povo tão de perto. <br /><br />Perdeu os óculos na queda, e teve uma visão embaçada das cartas, dos rostos, das mãos. Levantou-se, ajeitou os cabelos, a gravata, tirou o pó e levantou uma das mãos. Queria terminar logo aquilo. “A partir de segunda-feira, vocês não precisam mais vir aqui. Basta telefonar ou mandar um e-mail, peçam para seus filhos, sobrinhos, amigos... E dentro do possível, iremos atender a....” <br /><br />De novo, não teve tempo de terminar a frase. Foi uma confusão total. Antes fiéis admiradores, as pessoas agora ficaram hostis, agressivas. O apresentador ao perceber que seus argumentos só aumentavam a ira daquela gente toda ergueu as mãos para a guarita, pediu ajuda dos seguranças. Mas todos estavam ocupados em proteger o patrimônio da empresa, no caso, os vidros da fachada ameaçados por paus e pedras nas mãos dos revoltosos.<br /><br />Nada foi suficiente para convencer aquela gente a desistir. Os vidros foram quebrados, a sala de espera destruída. Um cenário de guerra: poltronas rasgadas, terminais de computador jogados no chão, pedaços de madeira, plástico e materiais usados em cenários, tudo espalhado, pisoteado, inutilizado. <br /><br />“Essa gente não tem educação mesmo”. A boca costurada dificulta a pronúncia e a compreensão, mas os filhos e a mulher do apresentador entenderam a frase. Nem na cama do hospital, ele alterou o estilo.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-19052865028285375982011-01-02T20:23:00.000-08:002011-01-03T03:44:22.888-08:00Médico de interior<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqkHOtBV7LUs8fIRhkWfQw7Geb7m4_WCXdd2E90I3kCCR3fyIWmGBwK_R7PJb6fi6qKY2Tly5h2Mwp-J10T8UBjr-UCAdPa8DRq52zboPFne18aqLVvtzjrdNLT-XyBNOA-4uZuFTmL87p/s1600/images.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 224px; height: 224px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqkHOtBV7LUs8fIRhkWfQw7Geb7m4_WCXdd2E90I3kCCR3fyIWmGBwK_R7PJb6fi6qKY2Tly5h2Mwp-J10T8UBjr-UCAdPa8DRq52zboPFne18aqLVvtzjrdNLT-XyBNOA-4uZuFTmL87p/s320/images.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5557810763340531506" /></a><br /><br /><br /><br />Antônio Aurélio Filho, me garante o distinto senhor atrás do balcão, é o nome completo do médico popularmente conhecido como “doutor Toninho” em Paraguaçu, cidade do interior de Minas onde nasceu e trabalhou por décadas, até morrer. <br /><br />Homem de temperamento forte, chegado a um copo e repito, médico dos bons, “doutor Toninho” é personagem central de casos folclóricos, geralmente envolvendo outras pessoas da cidade em situações bastante interessantes. Deixou muitas histórias, e trago na memória algumas cenas dele ao lado de minha avó, de quem cuidou até o final da vida com atenção e competência.<br /><br />Na época em que o doutor Antônio trabalhou, o único hospital da cidade era administrado por freiras, com mão de ferro e rígidas regras de conduta. É possível imaginar quanto o comportamento, digamos, “rebelde” do “doutor Toninho” incomodava as irmãs. Mas ele era natural da cidade e como médico conquistara prestígio e respeito em todas as camadas sociais. <br /><br />A conversa em torno do "Doutor Toninho"" se estendia, enquanto apreciávamos uma cerveja gelada na tarde quente de Paraguaçu. O “seu Tião”, dono do bar, foi quem revelou o nome inteiro do nosso personagem e, indagado sobre alguma história curiosa disse que certa vez o filho dele estivera internado com suspeita de meningite.<br /><br />Os exames que poderiam comprovar a doença não podiam ser feitos em Paraguaçu, cidade carente de recursos. Para isso, o filho do “seu Tião” teria que ser transferido para outra cidade. À espera de uma definição, a família não arredava pé da porta do hospital.<br /><br />Tarde da noite, o “doutor Toninho” chega - visivelmente embriagado, para visitar a criança. Meia hora depois, o médico volta e tranqüiliza “seu Tião” e os demais. “O rapazinho não tem meningite, deixa ele aqui, vamos observar.” <br /><br />Ao lembrar o episódio, percebo no olhar do “seu Tião” carinho e o respeito pelo amigo de infância que tornara-se médico. Logo que o doutor Toninho vai embora do hospital, a irmã-diretora chega para o “Seu Tião” e o aconselha a transferir o menino de hospital. <br /><br />Coloca em dúvida a capacidade do Doutor Toninho de fazer uma avaliação confiável, mas recebe como resposta a exigência de que a transferência deveria ser documentada. Com uma simplicidade comovente, o “Seu Tião” me explica com serenidade e clareza que reagiu daquela forma porque não faria nada sem o conhecimento de um especialista. Afinal era o filho dele.<br /><br />A irmã deveria assinar um termo de responsabilidade onde constariam todas as informações sobre o quadro de saúde do garoto e a justificativa para a transferência. Somente dessa maneira, a família da criança tomaria essa decisão sem o conhecimento do médico, ou seja, do doutor Antônio Aurélio. A irmã não levou a ideia adiante. O filho do “Seu Tião” tem hoje em torno de 40 anos de idade e ótima saúde, me garante o pai. <br /><br />O doutor Toninho tinha o hábito prescrever receita em guardanapos, não se furtava a responder aos mais estranhos questionamentos. Dono de senso de humor apurado, raramente perdia uma piada ou deixava escapar a chance de dar respostas cretinas ou maliciosas. <br /><br />Quando perguntado sobre um bom remédio para hemorróidas respondia: chifre de carneiro. Parecido com um grande parafuso bastava, dizia ele, enroscar no local dolorido tal qual uma porca. Quando chegasse no fim da rosca, era necessário puxar com força para fora. Tiro e queda, garantia.<br /><br />Certa vez, uma senhora bastante tagarela e conhecida na cidade perguntou a ele se era possível engravidar sozinha, apenas por ter usado um banheiro de rodoviária. Explicou ao experiente e bêbado médico que a filha havia sentado em um vaso sanitário sujo, repleto de espertos espermatozóides que acabaram fecundando a incauta menina.<br /><br />“Isso é possível doutor?”, indagou a mulher de voz estridente, em tom quase autoritário - tamanha a ansiedade diante desse dilema familiar. O doutor Antônio bebeu o copo cachaça de um gole. Vermelho feito pimentão tossiu alto, foi até a porta e pigarreou na rua. Voltou-se para a futura a avó e soltou:<br /><br />“É perfeitamente possível, dona. Basta que dentro do vaso tenha um... (aqui o nome do órgão é dispensável) desse tamanho!”Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-65433632122153550792010-12-29T09:03:00.000-08:002010-12-30T04:00:44.026-08:00Belzonte<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJciQN_xqityX4hgfTv_9WCRdmXISPc5l5Cqy3e8HJv-gnrHnKhwomeiUuyiwN_jbjYPZCPy8tOui4eMiAhLFTeFJNnd6-JnqDXifqnNQHVXzuAdewxD8aL5-QPL9cAfWJmWhBHogfBKW3/s1600/curral.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 213px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJciQN_xqityX4hgfTv_9WCRdmXISPc5l5Cqy3e8HJv-gnrHnKhwomeiUuyiwN_jbjYPZCPy8tOui4eMiAhLFTeFJNnd6-JnqDXifqnNQHVXzuAdewxD8aL5-QPL9cAfWJmWhBHogfBKW3/s320/curral.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5556151326740064082" /></a><br /><br /><br />Quando o sol toca Belo Horizonte<br />por cima da serra do curral<br />a vida amanhece.<br /><br />Lá vai buzão,<br />caminhão, charrete.<br />O audi, a moto, ô trem.<br /><br />Mendigos na Praça Sete <br />A mulher usa o filho para pedir<br /> e o olhar do filho<br /><br />Cumplicidade e só <br />O que teu povo tem?<br />O melhor sempre fica<br />para quem tem mais.<br /><br />Eu sou teu sangue<br />tuas pontes e montanhas<br />têm um pouco de mim.<br /><br />Civilidade é teu nome<br />Liberdade, onde estás?<br /><br />No caldo de feijão<br />Na pinga com limão<br />Na língua, na bucha<br /><br />As mulheres mais lindas<br />desfilam nas praças <br />casais, namorados, amantes<br />Minas, teu nome é desejo<br /><br />Tuas praças e esquinas<br /> mantêm a elegância.<br />Gosto de vida mineira<br />Ô Minas Gerais.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-81091010470100778392010-12-13T16:47:00.000-08:002010-12-13T16:50:39.666-08:00Vida mudern@<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpnEUBFnpk03SdF9DTtddAlDYRHX_cyp3uH9uZBMo3x__JUHTA35v0WR1TvNU1EDVTB0VVBXF7fTgo-0utUER2kq2TXwsbQgIRnsW2tm4Z5-0-LPTkZmXs0Oi7NC5llLXYdE2nWSickgg-/s1600/fone.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 228px; height: 163px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpnEUBFnpk03SdF9DTtddAlDYRHX_cyp3uH9uZBMo3x__JUHTA35v0WR1TvNU1EDVTB0VVBXF7fTgo-0utUER2kq2TXwsbQgIRnsW2tm4Z5-0-LPTkZmXs0Oi7NC5llLXYdE2nWSickgg-/s320/fone.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5550333921258513874" /></a><br /><br /><br />Conheço um bocado de gente que vive reclamando de celular. Essas maquininhas diabólicas são capazes de incomodar até as pessoas mais reservadas, que acabam sendo convencidas a comprar um aparelho, para que possam ser – oh, tristeza, localizadas.<br /><br />Privacidade, onde estás? Hoje ninguém mais tem sossego com esses aparelhinhos apitando no bolso, na bolsa, no porta-luvas, em tudo que é canto. Mas nada se compara, em termos de aborrecimento, com o momento em que ligamos para a operadora para reclamar do serviço. <br /><br />É um labirinto de incompetência onde o sujeito conversa com 4 ou 5 pessoas – o jogo de empurra é interminável, e não resolve absolutamente nada! O tom do atendimento é absolutamente impessoal: começa com uma gravação que explica em quais teclas terei a resposta que procuro. “Se você já é cliente, tecle1; se não é cliente, tecle 2, se é sobre celular, tecle 3....” e por aí vai. <br /><br />Isso quando não temos que dizer ao telefone o que queremos, como se estivéssemos em um país exótico, tendo que soletrar cada palavra. Isso mesmo, temos que falar com o robô do outro lado o que nos aflige.<br /><br />Eu não sei de onde importaram isso, mas é esquisito demais, e no Brasil fica ainda mais engraçado. Consigo imaginar no Japão ou outro país distante com gente afeita a conversar com máquinas – mas não aqui.<br /><br />Aperto a tecla que diz que vou ser atendido por gente de verdade, “um de nossos atendentes”, e suspiro aliviado quando ouço “Pois não, senhor?” de alguém de carne e osso do outro lado da linha. Nesse momento, ainda calmo e paciente, acredito sinceramente que conseguirei resolver o problema.<br /><br />Mas a moça não vai conseguir resolver. Não está ao alcance dela, aliás pouquíssimas decisões podem ser tomadas por esse pessoal do “Call Center”. Nome sonoro, anglo-saxônico, que não faz a menor diferença na vida do coitado do assinante, cliente, ou seja lá como os “Call centers” nos conhecem. Acho que depois de desligar eles nos chamam de babacas mesmo, aqueles que compraram o telefone e aderiram ao plano do qual vão se arrepender inutilmente mais tarde.<br /><br />A moça transfere a ligação, fico ouvindo a gravação da operadora por mais algum tempo. Outra pessoa atende e diz: “Eu vou estar transferindo a ligação para o setor responsável, é só aguardar.” Essa frase detestável é dita por alguém com voz de autômato do outro lado da linha. Segue um tempo indescritível, coisa de 3 ou 4 minutos, em que vaza uma gravação dizendo que a ligação é muito importante e que um dos atendentes não vai demorar para atender. Nessa brincadeira já se passaram mais de 15 minutos, desde que decidi ligar para reclamar.<br /><br />Finalmente alguém atende. ‘Em que posso ajudá-lo, senhor?” Eu explico pela enésima vez que preciso mudar de plano, comprei há 6 meses e há pouco tempo fiquei sabendo que é 3 vezes mais caro que o de uma amiga, com as mesmas vantagens, preço etc.<br /><br />Adivinha? O sujeito pede para eu aguardar. Volta aquela musiquinha irritante, eu já querendo desligar, quase vencido pelo cansaço. Minutos depois (já foi quase meia hora de “negociação”) sou informado que não posso mudar de plano. E que, se optar pelo cancelamento, vou pagar multa! Isso mesmo: ou eu fico com eles ou terei que pagar multa, algo assim como um divórcio com pensão alimentícia.<br /><br />Fico bravo, xingo, digo que aquilo é absurdo e que, embora o atendente não tenha culpa de fazer aquele trabalho de merda. A empresa engana o consumidor, e ele é pago para ficar ouvindo impropérios como os que eu disse sem poder fazer nada para resolver o problema.<br /><br />Não à toa, as operadoras de telefonia lideram o ranking de reclamações nos procons, Brasil afora. Colocam um exército de telefonistas sem a mínima autonomia para ouvir o cliente, mais nada. Apenas ouvir e depois re-pe-tir o mesmo texto, sistematicamente sabe Deus a que custo emocional, que eu já estava às turras. Pode ser um caso de saúde pública, sabidamente há perdas dos dois lados. <br /><br />O atendente me pergunta se é só isso. Eu digo que é, não há nada a fazer. Ele começa a ditar um número enorme, diz que é o número do protocolo. Protocolo para quê, meu Deus? Ele me diz que é praxe. Toda reclamação tem protocolo.<br /><br />É claro. A picaretagem se alimenta pela burocracia. O serviço mal-feito que se garante em cláusulas duvidosas de um contrato unilateral baseado em uma gravação telefônica – exatamente o negócio deles! Essa conversa tinha que terminar mesmo com um número de protocolo. É a cara do nosso país.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-62475684042154638162010-11-22T05:45:00.001-08:002010-11-22T12:35:57.434-08:00TESTEMUNHA OCULAR<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEJMRlyB3nNU2anl5_kXbdvd7p0Q-ApvvqURuIelvu1R64we_DoSgEPxcSkTdzON5dXDdfkKw6y3yErOXqD9MbmjKqZ_qLvZhahcqdkHn9JfngG-DdaQIP7Vk1hIW17Wqor4RnLfwTYTlc/s1600/Conca.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 156px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEJMRlyB3nNU2anl5_kXbdvd7p0Q-ApvvqURuIelvu1R64we_DoSgEPxcSkTdzON5dXDdfkKw6y3yErOXqD9MbmjKqZ_qLvZhahcqdkHn9JfngG-DdaQIP7Vk1hIW17Wqor4RnLfwTYTlc/s320/Conca.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5542370565055432018" /></a><br /><br />Estava lá e ouvi: “O Conca é o pior jogador do Fluminense hoje!” Incrível. O mesmo Conca, brasileiros e brasileiras, que agora domina as listas de melhor jogador do campeonato. E também vi o mesmo Conca, dez minutos depois do comentário acima, meter dois golaços no São Paulo e colocar o tricolor carioca de novo na liderança desse campeonato brasileiro que chega perto do fim com o Fluminense campeão. <br /><br />Além da vitória gigante do Flu, a ida a Barueri, na grande São Paulo, é o pretexto desta crônica. Foram 35, 40 minutos de trem no leve balançar do velho vagão que vai dando um sooooooono na gente, impensável em uma ida ao estádio de futebol. Fico pensando em porque construíram aquele negócio, a Arena Barueri. <br /><br />Havia um time lá, o Grêmio Barueri, mas que agora é Grêmio Prudente porque “mudou de cidade”, estabeleceu-se em outra freguesia. Em Barueri a mina secou. O time surgiu de uma parceria, destacou-se em um ou dois campeonatos anteriores, mas sem alma, tradição, um time dificilmente consegue existir sem dinheiro. Existe até sem torcida, mas sem dinheiro não rola. <br /><br />Restou o estádio que só deve receber grandes jogos até a copa.<br /><br />A Arena Barueri é de acesso complicado nas proximidades e fica a uma boa distância da estação Jardim Belval, por onde chegam muitos torcedores. Muita mais gente ainda vai de carro e perto não tem estacionamento suficiente. Torna perigoso até um jogo como esse em que o São Paulo não tinha mais chances e a torcida levou até faixa pedindo pra entregar o jogo.<br /><br />Na saída, a torcida do Fluminense teve que esperar pelo menos uma hora para chegar até onde estavam os ônibus de caravanas e os vários estacionamentos - tipo feira onde se alugam barracas pra vender. No caso, aluguéis de pequenos galpões e garagens particulares estampadas em avisos, placas improvisadas e mal escritas, empurradas no gogó mesmo. <br /><br />Tinha também os ambulantes tradicionais, vendendo suas camisas e bonés. <br /><br />Mas isso a gente já conhece e não tem problema afinal cada um sabe o que está comprando e os caras precisam ganhar um dinheiro no fim de semana. Afinal vender nem sempre é roubar, apesar de algumas multis e a receita fazerem isso com a gente direto. Nada a ver com cambista, incluindo boizinhos de classe média comprando meia e vendendo a preço de inteira.<br /><br />O estádio deve ficar às moscas em breve, mas tomara que alguém faça alguma coisa para impedir que apodreça, papel das lideranças locais, mas só vai acontecer algo de bom ali se a comunidade fazer-se representar de verdade, indo às reuniões e intercedendo nas decisões. E ‘olho vivo’ que tem gente que se vende baratinho. <br /><br />Foi um aperto a saída do jogo...<br /><br />Uma barreira do batalhão de choque se formou na saída acanhada da Arena de Barueri. A rua foi interditada. Depois de uma goleada de 4 x 1 sobre o São Paulo e a taça de campeão brasileiro de 2010 muito próxima das laranjeiras, a torcida cantava na saída do estádio e assim chegava na rua cercada pela polícia. A aglomeração era inevitável e mais gente chegava: crianças, mulheres, idosos, rapazes, meninas, adultos, bebês. Do lado da rua, um barranco de uns sete metros de altura de onde brotavam, é mais ou menos isso mesmo, as frágeis colunas que sustentam as pequenas casas.<br /><br />Uns oito ou nove malandros corriam por ali e isso explica a primeira de várias correrias no entorno da lateral do estádio. Pelo portão de onde saímos só havia duas saídas possíveis. Bloqueadas porque a esta altura o barulho era na outra ponta do quarteirão. Ouvimos sons de bombas soltadas pela policiais, sinal de que a coisa não estava boa mesmo. <a href="http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2010/11/corintiano-armado-causado-tumulto-com-torcedores-do-flu-em-barueri.html">Tinha um corintiano armado por perto</a>.<br /><br />Imaginem todas essas pessoas se espremendo na lateral do estádio a cada correria. Eu via os pais atarantados tentando reunir a tropa a cada sinal do alarme que era sempre aos solavancos. A linha de frente, formada pelos integrantes das “organizadas” do Fluminense tratava de engrossar ainda mais o caldo. <br /><br />Policiais chegaram ao alto do barranco e perseguiram os caras que apareceram do nada. A polícia não liberava a saída e algumas pessoas entraram de novo no estádio forçando um dos portões para sair pelo outro lado. Hesitei. Fiquei onde estava sentei na grama perto da entrada arrombada. Neste tempo todo passou um filme na minha cabeça.<br /><br /><br />Como vai acabar?<br /><br />Como em outras ‘roubadas’, ficava matutando nos meus filhos com medo de levar porrada e chegar ensangüentado, ir para um hospital e telefonar para casa avisando. Pensava naqueles pais e mães ali do meu lado. <br /><br />Depois de mais uns 15, 20 minutos resolvi entrar pelo portão. Com esforço segurei a porta pesada e torta que permitiu a invasão presenciada pelos policiais e passei. Foi quando notei com o canto do olho que a barreira da rua finalmente era liberada. Segui pelo corredor e ainda passei pelo banheiro, onde joguei uma água no rosto. A rua estava movimentada, era noite e respirava aliviado no caminho de volta para casa. <br /><br />Tinha o trecho até o trem e sentia um pouco de inveja do pessoal que saiu com a camisa do Fluminense no corpo. Como toda forma de amor, é um sentimento inexplicável esse nosso por um time de futebol. Mas bastou 5 minutos para ver uma moça e dois ou três rapazes sendo atacados covardemente. A moça caída no chão e os amigos se defendendo com bravura. A bronca acabou com a chegada de uma viatura da Guarda Municipal.<br /><br />E a copa vai ser aqui...<br /><br />Ir ao estádio no Brasil é uma aventura porque as autoridades se preocupam mais com o horário da transmissão do que com o torcedor. Nosso país avançou nos anos FHC e Lula, passou de coadjuvante a jogador, virou titular dos BRIC’s no Campeonato Mundial, mas está longe de entrar para o G4, o bloco dos melhores países do mundo. <br /><br />Simples. Da janela do trem dava pra ver dois cenários perfeitamente distintos na tarde ensolarada de céu aberto que nos abençoou o domingo: de um lado as favelas compridas que acompanhavam a linha férrea. De outro, sobre uma imensa planície alguns quilômetros adiante cortada pela rodovia Castelo Branco, os prédios suntuosos de Alphaville. <br /><br />Ao redor dessa paisagem, a maioria dos brasileiros vive como pode. Mora lá longe e trabalha, gosta de bebida, sexo, música e futebol – não necessariamente nessa ordem, e se arrisca nessa terra adorada, apesar dos pesares.<br /><br /><strong></strong><strong></strong><a href="http://http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2010/11/corintiano-armado-causado-tumulto-com-torcedores-do-flu-em-barueri.html"></a>Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-14658803563472147452010-02-05T05:04:00.000-08:002010-02-05T15:27:14.166-08:00O ET e o BBB<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCjqhMKEKvz5Fs65aZCNc6zMGSVavnTSFvExN1eoFGVOvaJHKKi5gYeoICkvm-TIwgS-AqhPim-xDD-23YGY7qaQp6bNPgNl3PRstSI_DtjndLya9HyU20utKyZjvnlvUP_AoKl7GOXXM8/s1600-h/televisao.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCjqhMKEKvz5Fs65aZCNc6zMGSVavnTSFvExN1eoFGVOvaJHKKi5gYeoICkvm-TIwgS-AqhPim-xDD-23YGY7qaQp6bNPgNl3PRstSI_DtjndLya9HyU20utKyZjvnlvUP_AoKl7GOXXM8/s320/televisao.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5434749008396150002" /></a><br /><br /><span style="font-style:italic;">Este texto foi escrito na época do BBB que teve a Siri e o Alemão (lembram-se?), como participantes. Mas acho que mantém sua atualidade, afinal...a febre das celebridades instantâneas continua</span><br /><br /><br /><br />Estava na janela e olhava lá para fora. O céu estava estrelado, como na maioria dessas noites entre o verão e o outono. Foi quando vi o clarão, o flash por trás dos galhos da árvore à minha frente, cuja copa tapava parte das luzes da cidade. Cenário com o qual habituei-me nos últimos 15 meses.<br /><br />De repente salta dali um homenzinho verde, um ET que vai logo puxando papo.<br /><br /> - Diga lá, meu camarada! Não assusta não, sou de paz, assim como você. Como vão as coisas?<br /><br />- Quem é você, de onde veio?<br /><br /> - Você já ouviu isso, mas vou repetir pela milésima vez: sou de um planeta distante, posso viajar a anos-luz por hora, falo a sua língua e posso ler seus pensamentos. Enfim, sou bem mais evoluído que você. <br /><br />Gostei da franqueza do cara, apesar de pequenininho era abusado e parecia divertido. <br /><br /> - Você tá meio chateado...<br /><br />O Etezinho chegou com a corda toda e já dando palpite. Pelo menos agora tinha alguém para conversar. <br /><br /> - Estou sim, meio solitário. O pessoal não está me dando muita bola.<br /><br /> - Cadê o pessoal? Sua mulher, as crianças...<br /><br /> - Olha Verdinho - vou te chamar assim tá? Os últimos 70 e poucos dias não têm sido fáceis, ando num enclausuramento noturno involuntário, justo quando quero conversar com o pessoal aqui de casa. Antes, todos riam das besteiras que eu dizia ao entrar na sala. Agora, estão todos na frente da TV ou do computador vendo o Big Brother Brasil.<br /><br />O ET se ajeitou na folhagem para me ouvir. Era mais ou menos do tamanho de um galo, usava uma roupa engraçada e botas de cano bem alto, tudo verde, inclusive ele. Ouvia minhas queixas com atenção.<br /><br /> - As crianças ainda consigo tirar dali, mas minha mulher não arreda o pé. O relacionamento está abalado, quase não nos falamos ou quando isso acontece é só para as coisas práticas, o básico do dia a dia. <br /><br /> - Mas você não tenta uma aproximação?<br /><br /> - Tento, quando chego perto e faço um carinho ela até retribui, mas não é com aquela atenção que eu gostaria. É só um beijinho de raspão, rapidinho, desses que a gente nem sente direito. Nem bem viro o rosto e a vejo de novo com os olhos vidrados no tal de Alemão. Sinto que estou perdendo terreno. <br /><br />- O caso é sério, tens um inimigo forte. Já ouvi falar dessa Globo.<br /><br />- Já, ET?<br /><br />- Já. Tem gente que vem de longe piratear o sinal para outras galáxias. Ninguém faz TV tão bem quanto na Terra. E a Globo é uma das melhores, brasileiro é bom em futebol e televisão.<br /><br /> - E carnaval. Música e outros esportes além do futebol.<br /><br />Percebi o olhar de aprovação do ET. Estávamos ficando amigos. <br /><br /> - Posso sintonizar a Globo daqui.<br /><br /> - Dentro da nave tem tv?<br /><br /> - Não, sintonizo aqui mesmo - disse, apontando para a cabeça redonda com duas anteninhas parecendo uma barata verde cibernética. Continuei minhas queixas.<br /><br />- Armei minhas barricadas, adotei estratégias de guerra, mas pouco tem adiantado, os resultados são ridículos. Consigo pouco mais que um "O que foi?", dito assim de qualquer jeito - às vezes repetido com ênfase para corrigir o pouco caso, mas aí é tarde. Meu coração está irremediavelmente atingido. Não sou mais a atração noturna, o cara que chega da rua com as novidades, os chocolates ou a cervejinha para um papo de fim de noite. Sou o incômodo, o sujeito que vai mudar de canal ou então ficar ouvindo música em outro lugar da casa. E o pior é que a coisa não fica restrita ao horário do programa. É um tal de Siri no Faustão, Flávia no vídeo-show, Fani no caldeirão... As mulheres são bacanas e tudo, mas não consigo ficar o tempo todo vendo e ouvindo aquilo. Daqui à pouco vão colocar ex-BBB ao lado do Galvão Bueno. Aliás, nem futebol deixa as pessoas assim! Até o Bial ficou nervoso no dia que o cowboy foi eliminado. Acho desproporcional e meio forçado, artificial. <br /><br /> - Olha, é artificial mesmo, mas o mote não é a simulação da realidade? É típico dos tempos que você vive aí na Terra, não acha? Mas daí a você se indispor em casa, é um pouco demais, não? É só lembrar daquela lei elementar: gosto não se discute. <br /><br />O ET me ouvia, mas ficava a maior parte do tempo com os olhos fechados. Percebi que ele estava "assistindo TV" e gritei:<br /><br /> - Ô Etezinho, sacanagem pô, eu aqui me queixando justamente desse negócio de televisão e você aí, vidrado? Tá parecendo o pessoal aqui de casa!<br /><br />O ET fez um sinal com a mãozinha, para eu falar baixo.<br /><br /> - A Analy e o Diego estão conversando. Acho que no próximo paredão eles vão votar na....<br /><br /> - Peraí, ET, pode parar! Até você vai ficar nessa de Big Brother??<br /><br />Ele dá um passo no ar, flutua em minha direção para dizer no meu ouvido:<br /><br /> - Fica frio, daqui a duas semanas acaba. É só um programa de TV, não tem importância. Agora me dá licença.<br /><br />E sumiu no meio da folhagem, com a mesma rapidez com que apareceu do nada. Assim como as celebridades do Big Brother, com excessão da Grazi. Putz.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-86884371892222854332009-12-22T02:24:00.001-08:002010-05-04T07:47:58.764-07:00Tempo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBlRCYF6DOc2fw3yRuobLkgqQ9vQPoEKKoso0mkiDNbJe282HvzFAqk4LkcnDZg7oH4JfcNE8LNA88aeYnfe25GuFJu0LxeywtEZUmvKlhGzW9i6NHmba7s0bgjRnyiTZSbkUzdhrDl-_A/s1600-h/tempo_1.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 300px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBlRCYF6DOc2fw3yRuobLkgqQ9vQPoEKKoso0mkiDNbJe282HvzFAqk4LkcnDZg7oH4JfcNE8LNA88aeYnfe25GuFJu0LxeywtEZUmvKlhGzW9i6NHmba7s0bgjRnyiTZSbkUzdhrDl-_A/s320/tempo_1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5418004537311436402" /></a><br /><br /><br />Ponto de partida: parte baixa da cidade, nos pés de uma colina suave. Um aglomerado de árvores e casas onde começa a estrada da lajinha. É por ela que vou começar uma corrida a fim de fazer um pouco de exercício nesses dias quentes e chuvosos de verão.<br /><br />Desço correndo a rua de paralelepípedos - uma descida empinada que faz vibrar os ossos a cada pisada forte com meu tênis 40 e uma meia sem elástico. As bochechas vibram também com o impacto daquilo. <br /><br />Chego enfim à esquina e viro para outra rua que desce (agora uma descida suave). Um jardim plano e imenso apresenta-se aos poucos enquanto me desloco. Á medida em que me movo, o olhar penetra em silhuetas, fendas, ocasos luminosos e aparições rápidas de seres que não posso distinguir direito agora pois quase bato em alguma coisa que surge na minha frente.<br /><br />Na verdade era uma carroça, ou melhor um cavalo - pois ele puxa a carroça e portanto vem primeiro. O carroceiro era um cara gente boa e tirou um pouco o cavalo da trajetória.no momento em que busquei a parte de cima da calçada estreita e mantive o caminho até a Lajinha. <br /><br />Chego então à margem do rio, um pedaço que banha a parte baixa da cidade. Há bancos e sombras em volta de mangueiras à noite procuradas por casais que ali podem namorar por horas. Uma espécie de refúgio onde também ficam andarilhos, pescadores e outros seres solitários.<br /><br />Depois de 10, 15 minutos de corrida geralmente fico cansado. As pernas começam a doer e uma delas especialmente. Não lembro qual. Em algumas vezes chego a parar de correr e volto para casa. Noutras posso continuar o exercício. A dor passa. Estou agora numa estrada de terra.<br /><br />O exercício se torna mais árduo com a poeira dos carros. Incomoda quando passam com as pessoas olhando para a gente. Devem pensar: que faz este aí correndo? As moças olham e depois se viram sorrindo. É bom. Os mais velhos ficam de cara fechada. Pode ser a poeira no rosto. Era um fusca antigo e empoeirado lotado de gente. Para andar ali é ótimo.<br /><br />Os pulmões agora estão contra minha vontade de continuar a tarefa até o final. O ar é pouco e o sol está forte. Completamente molhado de suor forço a barra e continuo marchando sobre a terra dura. Bois, bezerros, bichos com chifres e sem chifres, grandes, médios e pequenos comem o pasto.<br /><br />Um cheiro de estrume fresco fica no ar quente do verão dessa roça. E eu ali correndo. Diminuo então o ritmo, estou a cem metros do rebanho espalhado entre morros de cupins, numerosos nessa região e que se misturam aos vales e planícies do lugar. Passo devagar entre esses animais que tem o estranho hábito de ficar mascando grama e olhando fixamente para a gente. <br /><br />Escuto o marulhar da água lá embaixo. São uns oitocentos metros até o final. Há uma ponte depois de uma curva à esquerda. É a ponte onde antigamente se fazia o caminho até a Varginha. Depois da estrada nova ficou conhecida como Ponte Velha. O nome é apropriado.<br /><br />Não tem as proteções laterais em alguns pontos. Dizem que por ali passaram automóveis e caminhões que despencaram rio abaixo. O vento que sopra entre as árvores e chega em rajadas- o que também colabora para tornar tudo ainda mais bucólico. <br /><br />O rio passa caudaloso embaixo lambendo as pedras eternas de seu leito. Acompanho com o olhar o rio até sumir no horizonte alaranjado e o ponto onde preciso desviar-me do reflexo dos raios do sol na água. <br /><br />Fim de corrida, ando em passos lentos. Satisfeito com a viagem busco a sombra. Sentado na grama, descalço, procuro quase não pensar. Apenas tenho a sensação de que vivi mais em 20 minutos que alguns dias, talvez meses da minha vida. <br /><br />Não apenas pelo exercício e seus benefícios. Mas pela idéia de que o tempo às vezes parece voar como tico-ticos, às vezes parar como a Lajinha. E nós não temos o menor controle sobre isso. Tanto tempo falta e tanto tempo sobra...E a vida aí para ser vivida - 2010 que o diga.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-16257042128586690762009-12-12T19:42:00.000-08:002010-01-15T06:30:44.542-08:00A arte imita a história<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLG_9OPlp9NB1vIMbCGueNiO5Xo0D3rkXNhofIEbDWBJAq_pSl2fo3rgO7Jmp9cfzSySKUNJ82szU8x4gzXmqL7Z-Nn_Av5AL8YdaCv9LUXYk0MHTlDv7PleWmh-sAt07Ywb-AHDIW19nx/s1600-h/bxktiradentes800.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLG_9OPlp9NB1vIMbCGueNiO5Xo0D3rkXNhofIEbDWBJAq_pSl2fo3rgO7Jmp9cfzSySKUNJ82szU8x4gzXmqL7Z-Nn_Av5AL8YdaCv9LUXYk0MHTlDv7PleWmh-sAt07Ywb-AHDIW19nx/s320/bxktiradentes800.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5414561779491175346" /></a><br /><br />Um tanto entediado pelo noticiário farto e cansativo, vasculho a internet – não em busca de novidades, mas para bisbilhotar a vida de personagens históricos. Escolho Tiradentes, talvez o nome mais facilmente lembrado entre as figuras brasileiras, praticamente um herói nacional.<br /><br />Joaquim José da Silva Xavier, figura que qualquer pessoa no Brasil que possa ler este Literário conhece, viveu em Vila Rica, hoje Ouro Preto, e inspira conversas que ficam ainda mais saborosas nas subidas e descidas da bela cidade mineira.<br /><br />Em Ouro preto conspira-se o tempo todo. É algo que está nas ladeiras, nos telhados, na expressão de alguns anjos barrocos, nos malandros das esquinas, no olhar das mulheres, nos agitos noturnos das repúblicas, nos bares, em todo canto.<br /><br />Basta dar asas à imaginação, puxar um pouco pela memória e começar a olhar em volta. O lugar onde a cabeça de Tiradentes ficou exposta por mais de dois anos por conspirar contra o império português está lá, agora, como monumento ao mártir. Em volta, tudo permanece: o casario, as igrejas, as pedras das ruas.<br /><br />E um mistério ainda paira pelas ladeiras, por mais de dois séculos: onde foi parar a cabeça de Tiradentes? Dizem alguns que está na casa de Bernardo Guimarães, poeta e contista fascinado por Ouro Preto, onde nasceu, viveu e morreu no século XIX. É dele o conto “A cabeça de Tiradentes”, que como poucos escritos, descreve, esplendidamente o modo de vida na cidade durante o período em que foi capital da província de Minas Gerais.<br /><br />Tempos de fartura, época em que o ouro era abundante e mexia com a vida de todos. Tanto que era comum as negras se enfeitarem para os festejos dando brilho aos cabelos com a poeira dourada que sobrava das lavras. “...e edificaram mais de um templo magnífico com as migalhas de seus senhores.’ A leitura de Guimarães – o Bernardo e não o João, é uma breve e divertida aula.<br /><br />A abundância em Ouro Preto agora é coisa do passado. O centro histórico está bem conservado, mas a cidade cresce de forma desordenada na periferia – como quase todo município de porte médio do interior do Brasil. Dos tempos de capital da província e berço da Inconfidência, Ouro Preto ainda cultiva o gosto pela cultura e a pluralidade de pensamento.<br /><br />Museu e cenário a céu aberto, Ouro Preto foi palco da encenação em praça pública do martírio de Tiradentes, coisa de alguns anos atrás – a data não sei ao certo, mas o que segue aconteceu de fato e quem quiser e puder que ajude nos comentários.<br /><br />Bem, a tal peça foi encenada em comemoração ao dia da Inconfidência, 21 de abril, e o roteiro foi fiel à história. Depois do enforcamento no Rio de Janeiro as partes do corpo do alferes foram mandadas para várias partes da colônia. A cabeça veio para Ouro Preto. A réplica usada pelos atores também foi colocada no mesmo lugar onde, em 1792, estava a cabeça enfiada em uma estaca, método usado para intimidar quem ousasse conspirar contra a coroa portuguesa.<br /><br />Conta Bernardo Guimarães que a cabeça ali ficou por 2 ou 3 anos. À medida que o tempo passava, diminuía o interesse e a perplexidade por aquele símbolo da mão forte da coroa sobre a colônia. Em uma noite em que só estava a caveira solitária a se debater com o vento, enquanto o sentinela dormia, eis que um gaiato a rouba e o guarda só tem tempo de ver o vulto sumir na esquina da rua das cabeças – situada logo acima da praça.<br /><br />Sim, rua das cabeças, como mais uma vez ensina o conto: “...a origem desse nome sinistro vem de que aí se fincavam na ponta de estacas as cabeças dos míseros enforcados pelas esquinas dos becos”. No alto da rua, diz-se que viveu um velho de vida reclusa e que, especula-se até hoje, seria o ladrão da cabeça verdadeira. Ao contrário das vizinhas, a casa onde viveu não ficou de pé para ajudar a contar a história.<br /><br />Na peça, a cabeça feita de gesso também foi erguida na praça e ficou dia e noite sob a guarda de um sentinela. Não era ator, mas policial ou funcionário da prefeitura – não me lembro bem, mas isso não tem importância.<br /><br />Ocorre que em um momento de descuido ou esquecimento mesmo, ninguém viu a cabeça sumir de novo! O caso gerou mal-estar, foram feitas investigações e buscas até a polícia encontrar um suspeito. No depoimento, o homem disse que não poderia mudar a história. <br /><br />Como o personagem de Bernardo Guimarães, sabia onde estava a cabeça do mártir, mas não poderia dizer. E o caso foi encerrado sem que a cabeça falsa aparecesse. Assim como a verdadeira nunca apareceu.<br /><br /><object width="445" height="364"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/BzeTU7KEeXY&hl=pt_BR&fs=1&rel=0&color1=0x234900&color2=0x4e9e00&border=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/BzeTU7KEeXY&hl=pt_BR&fs=1&rel=0&color1=0x234900&color2=0x4e9e00&border=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="445" height="364"></embed></object>Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-28497152961789829032009-12-05T04:30:00.000-08:002009-12-05T04:34:26.074-08:00Sobre chatos e vizinhos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMPv8JB68xWoOR05fwjqOgRsofBaSTRQQ5SJlTwiQmNILZTyIBQUKWNtF5tjHsxNYc27DJdpU5sf2TDfUO18JYF-Fqcw4Vtlp3EHjpJMcQgsQXempdhI3PA-ciECPR9acchmYyuFh1ytG2/s1600-h/vizinhos.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 297px; height: 233px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiMPv8JB68xWoOR05fwjqOgRsofBaSTRQQ5SJlTwiQmNILZTyIBQUKWNtF5tjHsxNYc27DJdpU5sf2TDfUO18JYF-Fqcw4Vtlp3EHjpJMcQgsQXempdhI3PA-ciECPR9acchmYyuFh1ytG2/s320/vizinhos.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5411729478233835186" /></a><br /><br />Nos encontramos na esquina. Eu, a caminho do supermercado; ela, de volta. Ao passar por mim, a pequena senhora – com menos de metro e sessenta de altura e mais de 80 anos de idade, disse de novo: “A boca não pára, toda hora tem que comprar um trem!” O sotaque mineiro destacado na última sílaba.<br /><br />Trem, que na verdade quer dizer outra coisa, quer dizer comida, basicamente. Víveres. “A boca não pára...”, completa ao passar por mim. Não consigo segurar o riso, o comentário da vizinha quebra o gelo da manhã sem graça. É como se dissesse: “É preciso fazer alguma coisa, precisamos sobreviver nesse mundo”.<br /><br />Personagens de bairro, figuras que a gente vai se acostumando, pois sempre as encontramos naquela hora besta, quando estamos de calção e chinelo a caminho da padaria. Gente a quem não devemos satisfação alguma, mas que se dão ao trabalho de perguntar-nos: “Como vai?”<br /><br />Mesmo mergulhados no mais absoluto mau-humor, esse tipo de comentário gratuito acaba por nos deixar mais leves, menos sisudos. Justamente no momento em que gostaríamos de passar incólumes, sem dar papo a ninguém.<br /><br />Não podemos dizer o mesmo de outras situações e ambientes, como no trabalho, em casa ou na escola dos filhos. Nesses locais, nunca passamos despercebidos, e, no entanto, há dias em que faríamos de tudo para não sermos notados.<br /><br />Existem vários motivos para essa reclusão voluntária. A chatice é um deles, em todas as suas nuances e variações de intensidade. Há os chatos que se aproximam da gente por interesse, por exemplo, gente que acha que pode ser dar bem a todo instante, como se isso fosse possível. <br /><br />Esses geralmente estão no ambiente de trabalho. Acham que qualquer situação é oportuna para “ganhar uns pontinhos”, mostrar serviço, “assinar” determinada atitude, frase, ação, ou algo que lhe renda um “Puxa, que bom”, dito por alguém hierarquicamente superior. São os famosos e onipresentes puxa-sacos.<br /><br />Tem gente que é chata mesmo, já nasce assim. Esse tipo de chato costuma ser da família ou é amigo, algum amigo próximo, e a gente praticamente é obrigado a conviver com eles. São “de casa”, não se incomodam de levar um corte, e mesmo ignorados permanecem onde sempre estiveram, por total falta de mobilidade social. Malas, enfim.<br /><br />Finalmente chegamos aos chatos da escola dos filhos. Poderia ser aquele recreador mais animadinho ou a professora feia com ar de rigorosa – mas geralmente são os pais dos outros alunos. E o momento máximo da chatice na escola dos filhos acontece em ocasiões especiais, como o Dia dos Pais. Tudo bem, é legal estar ali com os pimpolhos e tudo, mas sempre tem aquele mico...<br /><br />Não, não é o mico o chato em questão, nem a brincadeira em que você coloca um saco na cabeça e esbarra em todo mundo antes de encontrar o garoto. Essa até que é divertida. Duro mesmo é ter que conversar com gente que você não conhece (geralmente pessoas bastante diferentes de você), sobre assuntos que não lhe interessam (normalmente carro, futebol ou religião) , em um dia em que você poderia estar fazendo outra coisa, como um churrasco, por exemplo.<br /><br />Mas a vida é assim, e temos que cumprir a agenda. Afinal, como diz a senhorinha que cruza comigo (ops) quase todo dia na esquina, “a fila tem que andar”. Nas palavras dela: “A boca não pára e toda hora tem um trem para comprar”.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-80272383686672069002009-11-23T03:42:00.000-08:002009-11-23T03:50:48.501-08:00O falso perfeito<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhD0NhI9kJJ7Dtj5oQBAH-9s9h3LyiLzeUWnH6j3AYtYiLjW7VqJXKL29afQCNf1r2dE3MWNS19hE3SupOM_4_uDfbg7AzWcMLpQDyzOIwTTFGSnaPCv4WRY4OkLk_9xm5N2HeWbS-Hne9/s1600/como-descobrir-se-o-dinheiro-e-falso.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 255px; height: 251px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhD0NhI9kJJ7Dtj5oQBAH-9s9h3LyiLzeUWnH6j3AYtYiLjW7VqJXKL29afQCNf1r2dE3MWNS19hE3SupOM_4_uDfbg7AzWcMLpQDyzOIwTTFGSnaPCv4WRY4OkLk_9xm5N2HeWbS-Hne9/s320/como-descobrir-se-o-dinheiro-e-falso.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5407265232662137442" /></a><br /><br />Certa vez um vizinho disse estar satisfeito simplesmente por respirar. “Acordo e quando percebo que estou vivo, agradeço a Deus. O resto é lucro”. Assim como eu, ele tem filhos e obrigações como: pagar escola, aluguel, supermercado, farmácia.<br /><br />Além disso, deve se preocupar com o futuro das crianças, todo pai se preocupa com os filhos. Daí ter as mesmas dificuldades que milhares de pessoas, mas... por quê ele não se queixa?<br /><br />Também gostaria muito de chegar a esse estado de satisfação, completude, convencer-me de que está tudo bem, a vida é boa e que qualquer coisa diferente de estar feliz por estar vivo é frescura ou coisa que o valha.<br /><br />Fiquei a pensar como seria a vida desse meu vizinho. Como só o vejo nos finais de semana, a imagem que fica é a de sujeito boa praça, sem maiores vaidades e que sabe levar as coisas sem ficar a se aborrecer à toa. Mas quem deve saber mesmo é a mulher dele, os filhos e amigos próximos.<br /><br />Eu também acho uma boa estar vivo e acredito que é melhor viver sem complicar muito. Ficar reclamando o tempo todo só torna tudo pior, embora em alguns casos seja necessário. Afinal, fechar os olhos para todos os problemas não é sinal de sabedoria; é fuga ou, no mínimo, displicência.<br /><br />No extremo oposto desse meu vizinho existe outra categoria de pessoas que implicam com tudo. Com esse tipo de gente não há acordo, é tolerância zero. A menos que o erro seja dele. Nesse caso, surge uma nova faceta, a do dissimulado.<br /><br />Esse tipo quase perfeito, que prefiro chamar de ”falso perfeito”, geralmente é encontrado no local de trabalho. Ele se beneficia dessa espécie de hipocrisia corporativa existente em todo lugar onde há um chefe, um ou dois puxa-sacos, meia dúzia de iniciantes ambiciosos, uma secretária burra (com sorte, gostosa) e quatro ou cinco funcionários água com açúcar – daqueles que não interferem, servem apenas para formar quorum.<br /><br />Essa composição é ideal para um “teatro do oprimido” tosco, recheado de insinuações, grosserias, teorias risíveis sobre jornalismo e outras baboseiras. Há quem fique profundamente impressionado, é o chamado assédio moral, do qual são vítimas os pobres diabos que morrem de medo de perder o emprego. A essa tarefa, os “falsos perfeitos” se entregam com prazer indisfarçável.<br /><br />Mas nem todo dia é do caçador. Sempre chega o momento em que essas almas inseguras sofrem por não conseguirem camuflar as próprias limitações. Nessa hora cai a máscara, mas como o quintal é dele... pano rápido, nada acontece.<br /> <br />O falso perfeito também existe fora das empresas, mas tem as asinhas curtas. Quando não há interesse definido, cargo, salário ou posição, fica muito mais fácil distinguir sabedoria de babaquice – basta os interlocutores certos. Mas aí já é outra estória.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-89063510627614097652009-11-06T05:15:00.000-08:002009-11-06T05:16:48.170-08:00Respostas<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZaCgV9Cir64p6As73K3Y7aj6VXmRJC8-v5X-doA0Lv40QMHREM8SwgVXwcdbUuoNjtz-JdWFYeVpZ60ssvwfZAmymN-bTILvQLN15l3RZGx3-Q8alvj97vEq297oWZGRin3jJyTUOGySC/s1600-h/resposta.jpg"><img style="cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZaCgV9Cir64p6As73K3Y7aj6VXmRJC8-v5X-doA0Lv40QMHREM8SwgVXwcdbUuoNjtz-JdWFYeVpZ60ssvwfZAmymN-bTILvQLN15l3RZGx3-Q8alvj97vEq297oWZGRin3jJyTUOGySC/s320/resposta.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400978869634754098" /></a><br /><br /><br />Procurava por respostas e então consultei os monges. Descobri então a nobreza da virtude. Mas não aprendi como elevar-me acima da vida mundana. Sequer consegui livrar-me de alguns pequenos vícios, em mim impregnados como uma segunda pele. Forcei arrependimento, convencido que estava pelas palavras puras, e travei luta interna contra os pecados do corpo, da mente e da alma. Depois de um começo promissor, acabei de novo caindo em tentação. Ouvi: és um humano miserável, fraco e sem vontade. <br /><br />Busquei então a companhia dos intelectuais, humanos como eu, mas donos de um pensamento sofisticado e símbolos da grandeza da raça. As palavras certas, no lugar certo poderiam inspirar-me e operar o milagre do renascimento. Mas tantas verdades ditas sem pudor quase me ferem de morte... Espantado, fugi, protegido justamente por minha humanidade falível e inconseqüente. Melhor não pensar, inferi, e de novo voltei às antigas perguntas.<br /><br />Insatisfeito e melancólico, tive então a necessidade de proteção. Busquei-a nos poucos amigos, nos braços de gente próxima. Recebi carinho, recebi atenção. Mas quando abri meu coração por completo senti o diálogo se tornar um monólogo. Os braços que me envolviam se afastaram e, tal qual objeto decorativo, exemplo vivo de desgraça por ninguém desejada, colocado fui a um canto. E dos outros me tornei deplorável criatura, exemplo do que não ser. “Pare com isso!”, foram as últimas palavras que escutei antes de dar as costas e de novo partir.<br /><br />Cansado, atordoado, fechei-me em pensamentos e chorei sozinho. O espelho se tornou ameaçador e insuportável. A alegria das crianças, o vôo dos pássaros, o caminhar distraído das moças, o zunir do vento nas árvores, o azul do céu, o marulhar das ondas, o balé dos peixes, o som das mais belas canções – nada me consolava. <br /><br />Perdido fiquei a olhar o mundo pela janela. E não compreendia o sentido daquilo tudo, afinal. Respostas. Lentamente o silêncio foi preenchendo o vazio daquela manhã. E eu não desejava mais do que o silêncio naquele momento. E formulei uma pergunta diferente: Por que o silêncio em vez das respostas? Menos confuso, menos triste, menos atordoado, ergui o corpo, fechei a janela e passei um café. <br /><br />Olhei de novo minha imagem no espelho e lembrei-me que nada é para sempre. Um dia, não sei quando, vou partir. Provavelmente sem ter a menor idéia do destino. Quando esse dia chegar, estarei pronto, independente de ter sido preparado, mesmo contra a vontade, ainda que não compreenda o sentido. Nesse dia, possivelmente irei olhar para trás e ver que perdi muito tempo procurando explicações. Talvez não, mas aí isso realmente não terá mais tanta importância.<br /><br />Do pó vieste e ao pó voltarás. A única certeza desse mundo, segundo os monges, intelectuais e pessoas como eu. Nesse dia acho que terei as respostas, sem muita complicação. Mas sendo assim não é preciso pressa. Nem para viver, nem para morrer. Se viver sem pressa de encontrar respostas, estarei dando um passo e tanto - nesse momento descobri. E agora, o caminho parece bem mais simples. Nem quero saber por quanto tempo. Essa resposta eu terei, todos teremos, de uma forma ou de outra, cedo ou tarde. Portanto, não importa.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-77796376651070924512009-10-09T06:49:00.000-07:002009-10-09T06:51:52.268-07:00Reminiscências<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE1U9mhl0gAAQXcmEIh5GvR3gCzCxTPymJ0RR1E74IH6k5uTPm33P7NGDg2G2Eq6Fw9HHbdhOsEjmg8TKYFM618raf3B9POUtRtvKx5KI29tGEmxlEPgdN8sjQWlxt0ch9K9m-28ZxRbDF/s1600-h/pink-floyd.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 300px; height: 273px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgE1U9mhl0gAAQXcmEIh5GvR3gCzCxTPymJ0RR1E74IH6k5uTPm33P7NGDg2G2Eq6Fw9HHbdhOsEjmg8TKYFM618raf3B9POUtRtvKx5KI29tGEmxlEPgdN8sjQWlxt0ch9K9m-28ZxRbDF/s320/pink-floyd.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5390597545860234146" /></a><br /><br />Wish you were here. O som faz a imaginação viajar no passado... A música foi gravada na década de 70 pelo Pink Floyd, mas a lembrança que tenho é dos anos 80. Vivia cercado de amigos que tinham certeza de que tudo era para sempre: a amizade, o gosto pelas mesmas coisas, o tempo que tínhamos para viver.<br /><br />Não importava o dia: segunda ou sábado, o estado de ânimo era sempre o mesmo, uma sensação boa de quem não quer perder um só minuto da vida. Nesse instante, senti algo parecido com auto-piedade. Estou apressado a caminho do trabalho, a bolsa e a cabeça cheia de compromissos, preocupações, prazos e metas a cumprir.<br /><br />Os acordes da música me consolam. “So, so you think can tell...” A cidade ao redor em nada se parece com os lugares onde perambulávamos com passos decididos, o riso largo, cabelos longos, a mente tranqüila e o corpo esbanjando vigor.<br /><br />Muda o som e ainda estou na metade do caminho. “Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito”. O Barão Vermelho de Cazuza agora é o centro das atenções em minha cabeça preguiçosa.<br /><br />Engraçado pensar que 20 anos depois de Wish you were here, “Pro dia nascer feliz”, de Frejat e Cazuza, estourava nas rádios e nos fazia sentir que sim, haveria rock brasileiro para ouvir depois de Raul Seixas e Rita Lee.<br /><br />A novidade foi recebida com entusiasmo, mas passou. Tudo passa. Muitos amigos sumiram, assim como minha gana de acompanhar tudo o que sai na mídia sobre música. Perdeu um pouco a graça. Outro dia li uma matéria que tinha o Jota Quest e o Babado Novo falando de “pop-axé”. Não dá.<br /><br />Não no meu ouvido. Estou atrasado, os ponteiros do relógio avançam sem dar trégua. Uma moça se levanta para descer do ônibus. É morena e tem os cabelos longos. O corpo bem feito, uns 18, 19 anos, talvez. Um instante de atração física se passou até que lembrei da minha filha. Não que tenha ficado com remorso ou constrangido, afinal olhar não tira pedaço.<br /><br />Lembrei de minha filhota de 12 anos porque em pouco tempo ela vai ter a idade que eu tinha quando curtia Pink Floyd e Barão Vermelho, entre outros tantos sons. E vai ter sentimentos parecidos, claro, à maneira dela. E depois dela virá meu filho, que hoje tem 7 anos.<br /><br />A garota gosta de música para dançar – inclusive axé, para leve desgosto do pai. E o garoto eu ainda não sei. Por enquanto, diz que torce para o Fluminense (não sei se para me agradar). Quando chegar o dia deles lamentarem as novidades que substituem coisas muito melhores (como é o caso das bandas de rock de hoje em relação às de ontem) talvez eu seja apenas uma lembrança. Mas isso ainda vai demorar, espero.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-46874469007953620752009-09-23T03:19:00.000-07:002009-09-23T05:38:57.493-07:00Corrida de obstáculos<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBQBzFz9FaTydN9pc5e_PiHYFmkfygD5qJF5OM67vE94GQTJfQOuUBADp-9Zo0NTtd8D6YZ_R-mlIY8hXTzZk03u0UKrKM1hVJfNLkCpDV452hgSA9DJIjagynu_cu0GLgWqAPRaIPwve1/s1600-h/corrida+de+obstaculos+jpeg.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 215px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhBQBzFz9FaTydN9pc5e_PiHYFmkfygD5qJF5OM67vE94GQTJfQOuUBADp-9Zo0NTtd8D6YZ_R-mlIY8hXTzZk03u0UKrKM1hVJfNLkCpDV452hgSA9DJIjagynu_cu0GLgWqAPRaIPwve1/s320/corrida+de+obstaculos+jpeg.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5384641014719214546" /></a><br /><br />Enfiou a chave com cuidado... Girou para a esquerda de mansinho, assim e a cada estalo mínimo que saía de dentro do tambor fazia uma careta. “Seis da manhã, Romualdo. Dessa vez tu exagerou irmão”, pensava. Quanto finalmente conseguiu entrar deu de cara com o relógio que marca: Seis e dez! “Quase acertei”.<br /><br />Um domingo que já se anunciava de sol, desses de gente na rua, crianças em bicicletas e senhores de moleton fazendo caminhada. Mas para o Romualdo, com aquela cara de ontem e bafo de bebida, não ia dar.<br /><br />Tudo bem. "Foi só para extravasar um pouco. Não peguei ninguém – mas até que rolou uma troca de olhares, ora com a mulata generosa que insistia em me reparar, ora com o cara que estava com ela, que ficava vigiando o bar inteiro! Esse sim eu diria que não pegou nada mesmo”, Romualdo feito retardado ficava formulando meio que os melhores momentos da madrugada na cabeça.<br /><br />O ruim vai ser explicar para a mulher que não tinha passado disso mesmo. Claro que a história que ele ia contar não era bem essa mas pelo menos já tinha um roteiro inicial e... a merda é que elas nunca acreditam. Bom, é melhor tirar essa mesinha da frente, que o passo ainda não está firme...<br /><br />Beleza, missão cumprida. Agora é só...Deus! O abajur...Como irá fazer para se desviar desse objeto infeliz que fica no caminho para o banheiro? É um corredor muito estreito, e ele terá que ser percorrido com extremo equilíbrio e responsabilidade, porque logo depois tem o aparador e aquele monte de porta-retratos.<br /><br />Calma, calma. Devagar, assim, devagarinho...está quase lá. Pronto, enfim o banheiro. Ué...todo arrumado, parece que ninguém usa isso há séculos! Nem toalha tem aqui, gente. Cadê o papel higiênico? E essa cueca?<br /><br />Cueca? De quem é essa cueca suja e desbotada? Romualdo fica doido. Indignado. Sente uma pontada no peito. Amedrontado, solta um berro: Marta! Marta! De quem é isso aqui? Marta! Marta! Ninguém responde. O que está acontecendo?!<br /><br />Romualdo, meio zonzo, saiu do banheiro. Agora, não sentiu vontade de seguir as regras desse código subliminar que rege as relações humanas, amorosas e não-amorosas, mas que incluem o interesse comum por algo que não tem como ser regido por um, apenas por dois. <br /><br />Sem cerimônia e nenhum cuidado esbarrou no aparador, derrubou o porta-retratos, quebrou o abajur, quase chorou de dor ao bater a canela na mesinha da sala e com muita dificuldade abriu a porta do quarto de casal. Não havia ninguém em casa.<br /><br />“Essa ingrata está mesmo me traindo”. Um pensamento piegas o pegou de surpresa e, com a certeza que só os cornos têm, procurou pelo celular que passara a noite toda desligado e ligou, ligou e ligou. Infelizmente, só uma gravação respondia: “Este celular está fora da área de cobertura ou desligado”.<br /><br />“Tu, tu, tu, tu”. Pela quinta vez ouvia aquele som de telefone ocupado que sempre toca depois da mensagem de “Esse telefone está fora da área de cobertura ou desligado".Iria atrás dessa mulher ou deveria, quem sabe se resignar?<br /><br />Será que ela o traía há muito tempo e ele sequer suspeitou?. Claro! Aquele jeito de mulher dedicada e ao mesmo tempo um furacão na cama, era tudo para deixá-lo maluco de amor e cego de confiança.<br /><br />Se não fosse essa a última vez haveria uma outra, quando seria a próxima? E ele acreditando que aquela torta fantástica dos finais de semana e feriados era para feita para Romualdo. Tolo, idiota, cafajeste de quinta categoria. Idiota. Puta que o pariu!<br /><br />Calçou de novo os sapatos, e nervoso mal conseguiu dar nós nos cadarços. Assim, meio sem voz, Romualdo voltou para a rua. Pegou um táxi e se mandou para a casa da sogra.<br /><br />Acordou a velha com uma insistente campainha às sete da manhã e disparou: <br /><br /> - Cadê sua filha? <br /><br />‘Eu é que sei? A mulher é sua”, respondeu a senhora.<br /><br />- Não é mais minha mulher, é só filha sua. Mas como ela não está aqui?<br /><br /> - Não está, ora... O que houve Romualdo?<br /><br /> - Nada, não houve nada.<br /><br />E saiu de novo, antes que a dona Rosinha terminasse de lhe oferecer um café, essas coisas. Faminto, agora andava já sem dinheiro para o táxi e decidiu ir até o ponto de ônibus. “Ela não podia ter feito isso”, pensava mas sem tempo de terminar porque tomou um puxão de lado. Alguém segura a sua mão com força por trás. <br /><br />Vira-se para ver uma cigana de vestido florido e sorriso desdentado, embora com dois ou três dentões de ouro, outro que parece prata mas de repente é obturação antiga...ela pede para ler sua mão. Transtornado ele deixa, pela primeira vez na vida – já que não acreditava nesse tipo de coisa.<br /><br />A dupla vai até a escadaria de um prédio e, no cantinho perto da planta que decora a entrada a cigana começa, sob o olhar preguiçoso do porteiro, que assiste à cena da mesinha atrás do vidro:<br /><br /> - Você está sofrendo...<br />- Sim, sim, estou.<br />- É dor de amor.<br /> - Como sabe?<br /> - Marianita tudo sabe.<br /><br />Ele não quer ouvir mais nada. Tira os cinco reais que lhe restam no bolso e entrega para a mulher. <br /><br />Resolve voltar à pé para casa. Não se conforma. Súbito, tem uma idéia. Talvez ainda exista uma chance. “Não vou perder minha mulher assim, fácil. Ainda resta o cartão de crédito”, agora liberado pela operadora depois dele ter suado sangue para pagar a fatura do mês passado.<br /><br />Entra na joalheria e escolhe um par de brincos de ouro – o mais bonito da vitrine. Quase dois mil reais. “Tomara que funcione, nem sei como vai ser se ela me trocar por aquele infeliz da cueca”, pensou. <br /><br />Chega em casa, todo suado. Abre a porta e Marta está na sala, com a cara amarrada. Ele não diz nada antes de estender o presente com as mãos, como um menino. <br /><br /> - Olha, é para você.<br /><br />Ela pega o presente, abre, e um sorriso se abre, seguido de um abraço carinhoso. Marta vai logo experimentar, e volta do quarto radiante com o brinco na orelha.<br /><br /> - É lindo, amor. <br /><br />Ele, meio confuso, mas feliz da vida, diz sem jeito:<br /><br /> - Você merece muito mais.<br /><br />Ela senta no sofá e diz para ele que na noite passada nem esperou ele chegar. Teve que sair, por volta das 21 horas, para acompanhar uma amiga até a Santa Casa. Esquecera de levar o celular, até porque nem ia adiantar. Estava completamente sem bateria.<br /><br /> - A mãe dela teve um AVC e a minha amiga, a Suzana, lembra? - Ele faz um gesto afirmativo com a cabeça. Marta continua:<br /><br /> - Pois, é, ela estava muito deprimida, e me pediu para acompanhá-la... Fiz companhia para ela a noite toda. Estou um caco e agora posso finalmente dormir um pouco. Espero que não fique chateado, mas pouco antes de sair dei uma faxina na casa e usei uma cueca sua para limpar o banheiro. Está toda manchada de água sanitária, além de ter acumulado sujeira do chão, das paredes... É melhor jogar fora.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-92139607036821473992009-09-18T03:24:00.000-07:002009-09-18T03:27:39.997-07:00Pesadelo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz3MJtKvw8t0Z18K_4tgCbuoBmrceHqcE6jW55mJ5tE4LewUa0tL5RluVGkHWGP7Mou8_U0se7xMwjJsNokbtV1qhuPSc-aSoZ1htlPjUZcGiRvGI_xt0DH6ZUk6i6wBBaSLlDILY0ylfk/s1600-h/rapaz+triste.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz3MJtKvw8t0Z18K_4tgCbuoBmrceHqcE6jW55mJ5tE4LewUa0tL5RluVGkHWGP7Mou8_U0se7xMwjJsNokbtV1qhuPSc-aSoZ1htlPjUZcGiRvGI_xt0DH6ZUk6i6wBBaSLlDILY0ylfk/s320/rapaz+triste.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5382752069770529890" /></a><br /><br />Fim da linha. Não tinha mais jeito, estava encurralado em um lugar escuro e fétido, depois de uma fuga mal empreendida por vales e montanhas que nem pode olhar direito tamanho era o pânico de ser apanhado.<br /><br />Desceu barrancos, atravessou corredeiras a nado, pulou cercas e muros, correu dos cães, desviou-se das pedras e outros objetos atirados em sua direção. Horas e horas correndo, alta adrenalina, o coração querendo sair pela garganta.<br /><br />Não tinha coragem de olhar para trás, a ameaça cada vez mais próxima. Momentos de agonia, desespero e um sofrimento sem fim. Olhou para o lado, numa tentativa ainda de encontrar uma saída. Não dava para enxergar nada, era o breu.<br /><br />Encostou-se no paredão úmido e suas mãos sentiram o musgo agarrado na pedra, uma fortaleza vertical onde era impossível uma escalada salvadora. Suava frio e já não raciocinava. Nem sabia como entrara em tamanha enrascada.<br /><br />Um grito. Foi o que lhe restou fazer. Um grito que lhe saiu das entranhas e expulsou os demônios aprisionados no peito. Um grito de som indescritível, que ecoou no paredão e que fez de repente surgir um clarão acima da cabeça e que foi tomando conta do espaço em torno daquele corpo estremecido de horror.<br /><br />Foi quando acordou assustado depois do sono pesado e um ou mais pesadelos dos quais nem se lembrava direito. Apenas desse, o mais recente, pouco antes de despertar. E foi o suficiente para lhe resgatar um suspiro de alívio. Levantou-se e foi até o banheiro lavar o rosto, escovar os dentes, tirar da boca o ranço e ver a própria cara no espelho. <br /><br />No espelho, um bilhete colado com chiclete: “Adeus”. Sentou-se no vaso e chorou feito criança. O fim, agora, era real. A dor que sentia também.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-39336465426152365672009-09-16T07:26:00.000-07:002009-09-16T07:33:24.754-07:00A burrice da alma<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGK-AZQt30GpSjVKTe0vIrPOSCSZEcPoIfneq7ZA5pIFfQ2qejQ0gbwYUtzstMX76ALH4FiyRpfp8UZNmccSZ9A7Vk8qOFeoa5gpPFxUWMvi_6j2wr1XasviHAhgapThYcF6Ja7Z7t4ETC/s1600-h/Soledad_y_Tristeza_by_Magdalena220.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 223px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGK-AZQt30GpSjVKTe0vIrPOSCSZEcPoIfneq7ZA5pIFfQ2qejQ0gbwYUtzstMX76ALH4FiyRpfp8UZNmccSZ9A7Vk8qOFeoa5gpPFxUWMvi_6j2wr1XasviHAhgapThYcF6Ja7Z7t4ETC/s320/Soledad_y_Tristeza_by_Magdalena220.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5382072227222410754" /></a><br /><br />A burrice da alma corresponde a um estado de invalidez. Cega os sentidos e endurece o coração. Impede que percebamos as sutilezas dos discursos, as nuances dos desenhos, as maneirices dos gestos.<br /><br />A burrice da alma é uma espécie de cegueira, induzida pelas falsas certezas e aprisionada pela lógica. Manipulada pelos lugares-comuns da existência. E alimentada pela crença no óbvio. <br /><br />A burrice da alma é uma espécie de surdez. Esquecemos que da vida nada se leva, apesar de termos ouvido isso inúmeras vezes. Negamos ao outro uma segunda chance, quando acreditamos ter ouvido o suficiente para nos fazer crer que o outro é a causa de nossos males. <br /><br />A burrice da alma não tem limites, cresce como erva e se espalha como fumaça. Aumenta na mesma proporção em que deixamos de vivenciar pequenas emoções. Começa não sabemos como nem quando, e se fortalece sem que nos demos conta, mutilando os sentimentos que possam, de alguma forma, ameaçar e confundir nossas convicções.<br /><br />A burrice da alma só pode ser combatida se permitirmos que uma lágrima escorra sem culpa nem vergonha. Somente quando me deixo distrair sem preocupação nem pressa, posso enxergar além do horizonte delimitado pelas minhas crenças. Apenas quando percebo que alguns momentos encerram um saber íntimo do qual só o ser humano é capaz. Viver é compreender que a vida é frágil e bela, ainda que nos exija estar sempre de pé todos dos dias, por mais que isso seja uma rotina indesejável. <br /><br />A burrice da alma é um fardo que não precisamos carregar, mas que dele não abrimos mão por medo do desconhecido.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-43823559722101133182009-09-15T05:23:00.001-07:002009-09-15T05:25:29.460-07:00A lei<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9R-RYMgskIt-UniJtpg2GBocFx7bjlamoYB7BSsAI21Ij3xDFadtrArpJZDtVIiWkLtkKMWJEz4KhGQX1U3qjedMLRJ82W7CrxMyVGJFZiYNOl1t-ARUJHkJYKEOiDq455apFC82DXfDX/s1600-h/justica.jpeg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 213px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9R-RYMgskIt-UniJtpg2GBocFx7bjlamoYB7BSsAI21Ij3xDFadtrArpJZDtVIiWkLtkKMWJEz4KhGQX1U3qjedMLRJ82W7CrxMyVGJFZiYNOl1t-ARUJHkJYKEOiDq455apFC82DXfDX/s320/justica.jpeg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5381669088345329906" /></a><br /><br />O homem tinha o rosto atordoado. Fora parado pela polícia e tinha que se explicar. Estava em um fusca velho (39 anos era a idade do carro), apresentava sinais de embriaguêz detectado pelo bafômetro que não se recusara a soprar. “Está certo, está certo. Eu to errado, está certo”, dizia entre soluços e lágrimas à repórter de TV que aparecera rápido. Era o tipo de situação que interessa, rende matéria, porque é muito engraçado.<br /><br />“Se o sujeito soprar o bafômetro mostra, se não soprar esconde, coloca um efeito, esconde o rosto”. A regra do telejornal é clara. Não se sabe qual o princípio que rege esse tipo de postura, mas é a lei. E o coitado teve a cara estampada para deleite dos que se divertiam vendo a cena de gosto duvidoso.<br /><br />Pouco depois, outra pauta: um acidente com um caminhão de eletrodomésticos que teve a carga saqueada por motoristas que passavam pela BR. A maioria em bons carros (seguramente com menos de 39 anos de uso – ao contrário do fusca) e que pararam e colocaram no porta-malas as telas de LCD, home-teathers e outros brinquedinhos novinhos em folha. Foram interceptados pela Polícia Rodoviária Federal. Agora, a ordem era inversa: evita mostrar os rostos, são suspeitos, estão protegidos pela prerrogativa de que ninguém é culpado antes de condenação formal pela Justiça.<br /><br />A matéria é exibida sem que essas pessoas sejam expostas, afinal, existe o risco de um processo com fins indenizatórios. Na sala de exibição, ninguém diz nada, a matéria não tem o mesmo apelo da anterior. É assim…<br /><br />Tive pena do homem do bafômetro, por mais que saiba que é perigosíssimo dirigir depois de beber. Mas também fiquei desapontado diante dessa covardia que é proteger quem representa ameaça – mais precisamente ameaça financeira ao patrão em caso de processo na justiça. E me pergunto que justiça é essa?<br /><br />A resposta vem logo: a mesma justiça que oprime os fracos, sem recursos, sem cultura, sem respaldo, sem conhecimento, sem dinheiro, sem amigos na imprensa, sem esperança, sem nada. E que beneficia os minimamente preparados para se defender, até mesmo quando estão descumprindo a lei.Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4836611595177180967.post-86435165205329385092009-08-12T14:13:00.000-07:002009-08-12T14:17:29.733-07:00A segunda chance<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBNtqs9Jda078STQR1v9r6OXwPbPERcqvbhtEk1Wbj8ZImSIPaHdA-3PPRrJvppUS1PGqndW18cSHwuydR22LXXuB2DkHBVXS-1ZMPO4282-pAPySbegILc2VR3psiQqBmuHsnw98U08cv/s1600-h/DSC08346.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 180px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBNtqs9Jda078STQR1v9r6OXwPbPERcqvbhtEk1Wbj8ZImSIPaHdA-3PPRrJvppUS1PGqndW18cSHwuydR22LXXuB2DkHBVXS-1ZMPO4282-pAPySbegILc2VR3psiQqBmuHsnw98U08cv/s320/DSC08346.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5369189324408813442" /></a><br /><br /> Carlos dorme, vira-se de um lado para o outro. Abre os olhos de repente. Levanta-se e<br />vai até a cozinha. No caminho vê um envelope embaixo da porta. Mesmo na penumbra abre e consegue ler o bilhete: " Favor comparecer ao Hemonúcleo Central urgente para tratar de assunto de seu interesse." <br /><br /> - Carlos esta confuso. Tudo esta confuso, o quarto gira em torno dele. Ele diz para si mesmo: - Não deve...Nao pode. (Vira a cabeca para o outro lado. ) Não pode ser...será?<br />Atrás dele parte da janela mostra o dia comecando, clareando objetos no quarto. O relógio marca 5h30min. "Vou resolver essa historia hoje mesmo", pensou. Tomou banho, um cafe rapido e saiu.<br /><br />O relogio na parede marca 7h30 min. Carlos está sentado ao lado de outras pessoas numa sala. Na parede, uma placa diz - Hemonúcleo Central. Ao lado tem um calendario. Carlos tem o ar apreensivo. Poe a mao no queixo e sem se deter em nada ou ninguem, olha para o vazio. Comeca a se lembrar da ultima vez que estivera ali.<br /><br />Foi ha uma semana. Ele tinha um ar feliz e bem disposto. Ao contrario de agora, conversava com as pessoas em volta, brincava com as criancas. Tinha ido doar sangue. Na vez dele, levantou-se e dirigiu-se a atendente.<br /><br />ELA<br /> - Vai doar para quem?<br />CARLOS<br /> - Sérgio Gouveia. <br />ATENDENTE<br /> - É a primeira vez?<br />CARLOS<br /> - Não. Meu sangue já circula nos outros - e ri, no que a atendente olha para ele fixamente. Tem os olhos verde-agua, morena lindissima. Ele para de rir, ela termina o cadastro e diz para Carlos se dirigir à sala de doacão. Carlos agradece, tocado pela beleza da moca. Faz a doacão. Na saída, é ajudado a descer da cadeira. Coloca o esparadrapo no braco. Ainda conversa de novo com a atendente.<br />ATENDENTE<br /> - O senhor vai querer o resultado do teste para HIV?<br />CARLOS<br /> - Como? (Responde, surpreso)<br />ATENDENTE<br /> - Quem doa sangue tem direito ao exame de HIV gratuito. Fica pronto em uma semana.<br />CARLOS<br /> - Sim, quero - disse, forcando conviccão.<br /><br />Quando voltou a si, o relogio marcava 8 horas. Ainda `a espera na sala do hemocentro, voltou a mergulhar em pensamentos. Lembrou-se de Manu. Manuela era o nome da gata. Aquele quarto colorido. Uma transa louca. Objetos pelo chao, Manuela grita, geme. <br /> - Vai meu garanhão! Carlos, você é demais! Ele tinha uma expressão tranquila. Manu ainda disse suspirando: - Não queria sair daqui nunca mais...<br />Lembrou-se da cara de assutado quando olhou para o bilau. A camisinha, aberta, estourada.<br /><br /> - A porra da camisinha estourou! Disse despertando dos pensamentos, enquanto do seu lado um homem o olhava, atento.<br />Carlos recompos-se, levantou e tomou um gole de água. A mesma atendente gostosa ja nao lhe chamava tanto a atencao. Foi até a mesinha no centro da sala e pegou uma revista. Retornou a seu lugar na sala de espera. De repente, fecha a revista e vai ate o banheiro, se olha no espelho.<br /><br /> - Será? Mas ela parecia tão, tão... - Anda de um lado para o outro. A lembranca do corpo de Manuela a tortura-lo.<br /> - Não! Definitivamente. <br /><br />Carlos volta ao lugar na fila. Levanta-se e vai ate a atendente. Como penitencia, mexe negativamente a cabeca ao mirar a bunda da moca. Pergunta: - Vai demorar muito?<br /> - So mais um minuto. (Diz a moca, e depois entra numa sala.) <br /> - So mais um minuto! (Babucia Carlos. Depois vira-se para um homem que aguarda atras dele e diz - Ela nao tem nocao do que significa um minuto para mim.<br /><br />Ah! Vida que e tao cara! E recita o trecho de um poema de Fernando Pessoa. Com cara de assustado o homem faz sinal de concordancia, mas depois se afasta um pouco. <br />A moca volta com um envelope na mao. Abre sem cerimonia e quando abre a boca a vista de Carlos se embaca. Ele desmaia, no que e socorrido pelas pessoas em volta.<br /><br />Acorda no quarto do hospital. Pergunta ao medico - Quanto tempo eu tenho, doutor.<br />O medico diz - O bastante. Tem plano de saude? Voce foi atendido aqui mesmo, do lado do hemocentro e esse hospital e particular. <br /> - Nao vou continuar meu tratamento aqui. Alem do mais, o senhor sabe que planos de saude nao cobrem esse tipo de doenca. <br />Carlos responde e olha o medico fixamente, mas parece ter o olhar perdido, como alguem sem esperancas. O Medico diz: Como nao? Voce precisa fazer uns exames, mas sao cobertos pelo seu plano. <br />Carlos continua a se queixar - E os medicamentos, doutor? Terei que arcar com eles de qualquer forma.<br /> - Isso realmente nao tem jeito - disse o medico secamente, e ja se dirigia ate a porta quando Carlos comeca a chorar. O medico que ia saindo, se detem junto a porta.<br /><br />Carlos esbraveja: Tudo culpa minha mesmo. Burro! Burro! (Grita entre solucos) <br /> - Nao e para tanto...diz o medico. Carlos completa:<br /> - Pensei com a cabeca de baixo, doutor. Homem e tudo idiota mesmo. E ainda comprei aquela camisinha vagabunda... Eu a conheci na mesma noite, doutor. Nos demos muito bem e acabamos no apartamento dela.<br />Lembrava claramente dos amassos, a cena dos dois se beijando. Continuou a lamuria: Foi magico...e tragico! Olha a minha situacao agora! Ela tambem, mas podia ter me contado. Que vai ser agora... (Chora)<br /><br />A porta do quarto se mexe. Chega a atendente. - Senhor Carlos?<br />Carlos enxuga o rosto, tenta se refazer.<br />A atendente diz: Seu exame de HIV... Deu negativo. Quando o senhor vem doar de novo?Marco Antônio Alveshttp://www.blogger.com/profile/00891676051853213486noreply@blogger.com0